VELHOS

Eu tenho a plena convicção de que independentemente da idade e gozando boa saúde mental, qualquer um de nós tem capacidade para adquirir conhecimento e ter a prontidão para executar quaisquer serviços que não exijam força física ou extrema especialização como é o caso das inovações tecnológicas mais rasteiras, onde basta apertar os botões indicados para conseguir o que se deseja.

Estou me referindo aos velhos que, como eu, vão mensalmente às agências bancárias para receber a aposentadoria ou pensão e fazer os pagamentos das obrigações de cidadãos como as contas de luz, água, telefone, internet, IPTU, carnês, etc. além de saques ou transferências, mas que diferentes de mim, formam filas quilométricas esperando que um funcionário venha em seu auxílio.

Claro que há algumas coisas que demandam conhecimento específico, mas o feijão com arroz, basta prestar atenção no que o TAA (terminal de autoatendimento) sugere e apertar o botão correspondente à nossa necessidade.

Entretanto, o que para alguns é facilidade e libertação, para outros é transtorno e dependência da ajuda alheia. São aqueles desafortunados que sequer sabem ler as senhas que trazem anotadas e que, infantilmente, entregam aos vigaristas de plantão.

E foi um desses espertos que me apareceu hoje.

O terminal que eu estava usando estava lento e depois de algum tempo saiu de operação, mas enquanto não apareceu a tela com a informação, tive que repetir os comandos várias vezes. Surge então ao meu lado uma moça com sorriso de manequim, sem qualquer indicativo de que se tratava de funcionária do banco, perguntando se eu precisava de ajuda e com a mão estendida pediu o cartão.

Todo mundo sabe que eu sou mais grosso do que papel de embrulhar prego quando é para tratar com esse tipo de gente e “diplomaticamente” respondi que não precisava nem de ajuda nem de ser assaltado.

Sem quaisquer contestações a moça desapareceu tão rapidamente quanto tinha surgido.

Outra alternativa para essas filas, talvez, seja a necessidade que os velhos têm de falar com alguém que lhes dê atenção nem que seja por alguns minutos, vez que no ciclo familiar ninguém mais se interessa por suas histórias e seu rol de conhecidos se reduz com o passar do tempo.

Periodicamente na TV aparecem propagandas de cursos para idosos, mas nada que desperte o interesse para quem já viu ou ouviu conversa insossa e desinteressante.

Grupos de viagens, no estilo bate e volta, nada acrescenta que motive a participação e nos grupos literários, saraus e assemelhados há a disputa de egos inflados que causam mal-estar, quase sempre.

Os asilos, com raríssimas exceções, são apenas antessalas de necrotérios onde apenas a muda solidão do isolamento é companheira.

Lamentável essa situação que tende a se agravar pelo número crescente de velhos sem ter o que fazer nem para onde ir.