Todo mundo tem um dia de cão e um dia de gato. Reducionista seria se insistisse na ideia de que alguns possuem o privilégio de passarem mais tempo como cão. Mas como a vida não tem ensaio, vale mais aprender com os erros do que amontoá-los na prateleira e, vez ou outra, folear a enciclopédia ambulante que na perspectiva de justificar o desânimo ou a frustração, ancora-se na escolha  infeliz da jogada. Campeões invictos carregam uma bagagem pesada nas costas. E cedo ou tarde a saúde mental vem fazer o balanço e liquidar as dívidas, acumuladas na trajetória.

Se pudesse escolher ser um animal da cadeia alimentar jamais seria um cão ou um gato. Essa promoção de um em favor do declínio do outro é uma metáfora perfeita da democracia e suas vertentes. Dar ao povo o poder de escolher quem o representa, como um troféu é tão vasto e tão assustador.

Assim como nas mãos de um governante uma caneta, uma folha e uma assinatura deflagram uma guerra, dar ao outro a permissão para conduzir nosso destino, assinar uma folha em branco, estabelecer procuração para que aja, deflagra um tsunami interior.

E por assim dizer, vago na empática ideia de possuir o pensamento alheio por alguns instantes e através do sentido fazer-me um déspota. Bem disse Jung, "quem nasceu e veio a esse mundo para encontrar a verdade, não pode permanecer na ignorância."

O que deveria mover o mundo, conforme a visão cristã propagada pelo Mestre Jesus, é o amor.  Na contramão, aparece o ódio que se estabelece na ausência daquele, que torna os intolerantes, em nível político, religioso e social, poderosos inimigos. Como o são, de modo figurativo, o gato e o rato.

Dizer que Shakespeare estava certo ao promover o amor até o último suspiro ou que o amor próprio sobrepõe essa finita visão de oblação, é  transitório. Vai depender da intensidade dos sentimentos e da racionalidade que é atribuída ao ser científico. Mas convenhamos, se não fosse essa "rivalidade" como premissa para entrega, estaríamos por aí, feito loucos, aos poucos, distribuindo fagulhas de amor e a paz mundial seria decretada. Mas será que estamos preparados para a monotonia, mesmo sendo seres conflitantes por natureza?

Até lá, ouso cantar o amor como se um rio fosse  e corresse torrencialmente para as profundezas do eu interior, revelando o qual frágil é viver esse mistério. 

Se amor com amor se paga, que quitem as contas, na proporção dos limites, sem o peso da moeda. Porque até mesmo cachorros e gatos podem manter uma convivência pacífica. É raro, mas podem. Nem que seja em roteiros de filme...

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 10/03/2022
Reeditado em 10/03/2022
Código do texto: T7469636
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