JORNALISMO

Na época em que as profissões eram valorizadas pelo desempenho dos seus militantes, o jornalismo se firmou como o veículo entre o fato e a divulgação tal como havia acontecido, sem achismos ou viés ideológico embasando os comentários que, em crônicas ou artigos memoráveis, muitas vezes deixavam os atores, nacionais ou estrangeiros, embaraçados diante da opinião pública.

A profissão exigia vasta gama de conhecimentos linguísticos, fatos históricos, das leis e perspicácia na formulação das perguntas dirigidas às autoridades quer nos pronunciamentos oficiais ou entrevistas fortuitas a fim de conseguir o furo de reportagem que, na maioria das vezes, respaldavam invejáveis currículos.

Mas esse tempo passou e a profissão que antes era símbolo de elitismo perdeu a característica dos textos bem escritos, das opiniões sensatas e da imparcialidade mais do que necessária a quem analisa personalidades ou acontecimentos nacionais ou estrangeiros.

Hoje em dia não se fala noutra coisa. Nas 24 horas do dia só temos notícias sobre a guerra em solo ucraniano. Acusações dos dois lados, embargos justificáveis ou não, destruição do patrimônio cultural, corredores humanitários, levas de refugiados, discursos heroicos, engajamento de mercenários apátridas e baixas, muitas baixas, nos dois lados, todas elas desnecessárias e inúteis diante do fracasso da diplomacia.

Chanceleres dos dois lados ao final de cada frustrada reunião de conciliação se apressam em apresentar as negativas da outra parte para a não solução do impasse.

Ontem, 10/03/2022 o Sr. Sergei Lavrov, representante da Rússia concedeu uma longa entrevista aos correspondentes internacionais de diversos jornais. Várias vezes respondeu aos mesmos questionamentos até que em dado momento, ele expressou o descontentamento diante da falta de profissionalismo dos repórteres que, por não prestarem a atenção devida às perguntas de seus colegas, voltavam ao mesmo tema com perguntas semelhantes como se a entrevista fosse depoimento em inquérito policial quando, insistentemente, se busca alguma omissão ou versão conflitante entre depoentes do fato ou acusados de delito.

É lamentável que, por todo mundo, os atuais obreiros do jornalismo não tenham a formação nem a postura que caracterizavam a profissão.