M de Música e de Mulher

Passou o 8 de março e não escrevi sobre o dia da mulher. É claro que fui cobrado. Desculpas, é só o que tenho, mas acabam sendo “mentiras sinceras”, que nem sei a quem mesmo interessam. Mas lembrei de minha mãe, e isso é verdade. Como vivi longe da barra de sua saia desde os 21 anos, era raro o segundo domingo de maio em que estávamos juntos. Tentava me desculpar, mas ela sempre relevava: “dia das mães é todo dia, meu filho”. E assim, tomando emprestadas as suas palavras, digo eu: dia da mulher é todo dia e em tempo para o meu “tributum quæ sera tamen”.

Tão grande é o número de canções com nomes de mulheres, que pensei numa homenagem musical. Difícil seria reverenciar assim os homens com a quase solitária Fernando, imortalizada pelo Abba.

Mesmo havendo os que cantam as 7 Marias, para revelar que Maria de Lourdes mora no estrangeiro, levada que foi por um alemão, além dos que perguntam sobre os mistérios de Clarice, em geral nas homenagens predominam os temas amorosos. Assim é com Ana, estou tão triste, vieram me dizer que posso até morrer, pra você; Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu; ou simplesmente para falar do esquecimento no piano das bobagens de amor que iria dizer.

Lembro de uma sem nome de mulher, que desfaz um mito: “Dizem que a mulher é sexo frágil, mas que mentira absurda!”. Ela pode até, para satisfazer o ego do parceiro, se fingir submissa, mas a força está com ela. Isso levou a que um sábio tio, bem antes de Erasmo cantar assim para a sua Narinha, concluir: “triste do homem que não tem uma mulher que mande nele”.

Mas há um revisionismo em curso, motivado pela forma como as mulheres eram apresentadas nas músicas e que os novos tempos repudiam. O que fazer então? Deixar de cantá-las apagando-as do nosso cancioneiro, ou procurar tirar delas as lições que nos ajudem a entender a época, baseado em que “o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir”? Afinal, tudo isso é história, está registrado, e ajuda a entender como essas relações mudam ao longo do tempo, em vez de simplesmente tentar apagá-las das conversas.

Foi-se o tempo em que se procurava uma Emília, aliás, contemporânea de Amélia e ambas só um pouco mais velha daquela que com açúcar e com afeto fazia o doce predileto do marido na tentativa de prendê-lo em casa. Numa dessas músicas enquanto um procura “uma mulher que saiba lavar e cozinhar e que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar”, o outro se queixa da que lhe fazia muita exigência, de não ter consciência dele ser um pobre rapaz, fazendo-o sentir saudade de Amélia, que para ele aquilo sim, é que era a mulher de verdade. Já a mais nova, conformada e compadecida do cansaço do companheiro, ao lhe ter de volta, dava um beijo em seu retrato abrindo-lhe os braços. Tudo isso é retrato de uma época, ganha-se mais ouvindo e questionando, do que simplesmente cancelando.

Hoje, quem enganará Severina, que montou um negócio para a vida melhorar? Pedro? É melhor que se acostume a ficar, apenas, de olho na butique dela. Porque a mulher tem mesmo é que seguir a sua estrela, o seu brinquedo de star, e até se quiser, fantasiar em segredo, o ponto aonde quer chegar. Porque, com certeza, chegará!

Fleal
Enviado por Fleal em 15/03/2022
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