O QUE DEUS FEZ QUANDO ESTAVA MAIS INSPIRADA

Não foi a terra, o mar, as plantas.

Não foram as paisagens, os gostos, os cheiros.

Também não foram as cores, os formatos, as texturas.

Quando Deus estava mais inspirada não fez a saudade,

também não fez o perdão ou a generosidade.

Com certeza também não fez os desejos, os sonhos, a fé.

Quando Deus estava mais inspirada não fez as cachoeiras,

ou, tampouco, o Sol, com seu nascer e morrer de todos os dias.

Não fez os ventos, as flores e nem a paixão.

Quando Deus estava mais inspirada não fez a poesia, as comidas ou a amizade.

Também não fez as melodias, as conchas, os doces.

E, por certo, não fez as montanhas, os riachos, os oásis.

Quando Deus estava mais inspirada não fez o abraço, o carinho ou a compaixão.

Também não fez os temperos, o gozo ou a razão.

E nem, tampouco, as crianças, o mar e o universo todo.

Naquele dia em que Deus estava mais inspirada, fez a criatura mais perfeita que poderia conceber.

Aquela que teria na sua alma uma alegria que nunca se finda, que nunca seria capaz de nos trair, que nunca ousaria dissimular, que seria a nossa sombra mais densa, que seria a tradução mais plena da palavra amizade.

E colocaria nessa criatura o seu talento mais agudo, não pouparia esforços para torná-la perfeita, gastaria todo o seu tempo para nutri-la com seu próprio néctar, compartilharia com ela aquilo que só havia guardado para si - e para mais nada, ou mais ninguém.

E um dia a tiraria do seu ventre como se estivesse dando à luz a si própria, num repente de talento sem par, momento único cuja beleza ficaria guardada no seu coração para todo o sempre.

E foi assim que Deus criou o cachorro.

 

Esse texto foi escrito inspirado e em homenagem à Mel, minha querida cachorrinha de quem tenho imensa saudade.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 17/03/2022
Reeditado em 17/03/2022
Código do texto: T7474997
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