DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 3; Dia 4)

Dia 3

20 de março de 2026

Ainda bem que ninguém percebeu.

Mas também, quem iria desconfiar de um puxa-saco a mais no meio de tantos baba-ovo do presidente? Quem poderia imaginar que eu estivesse aqui não para lhe chupar as bolas e sim para tirar proveito de sua fraqueza?

Ele é muito bobo, mesmo!

Pensa que está abafando, fazendo aquelas entrevistas em frente ao Palácio. Pensa que todos os que estão ali o admiram.

Alguns, como eu, estão só estudando um jeito de atacá-lo. Mas eu não quero matá-lo. Eu só quero que ele sofra as consequências de sua ganancia e irresponsabilidade de moleque mimado.

Aquele incompetente não conseguiu acertar a facada. Devia ter acertado o pescoço. Ou a artéria femural.

Poderia acertá-lo na saída de um de seus shows de exibicionismo na motocicleta.

Poderia ter sido um tiro, mas o idiota foi se passar por artista de circo e atirar uma faca no peito do presidente. E logo uma faca cenográfica!!!

Já que o incompetente falhou, eu é que terei de me encarregar de executá-lo. Mas será do meu jeito.

E já está quase pronto. Ele está com os dias contados. Eu não vou matá-lo, mas ele preferirá estar morto.

Todos esses dias que estive observando foram suficientes pra entender sua rotina. O excesso de confiança dele vai facilitar as coisas.

Agora volto pro meu laboratório, no interior do coração de Rondônia.

Dia 4

24 de março de 2026

Estou moído de cansaço.

A gente se acostuma com as facilidades desse mundo podre e quando tem que abrir mão delas sente sua falta.

Imagina, de São Paulo a Rondônia de ônibus!

Mas tinha que ser assim. Se viesse de avião não ia conseguir embarcar com todos esses produtos. Com certeza iam me fazer um monte de perguntas.

Alguém poderia desconfiar.

Pior ainda se fosse de carro. Vai que me param numa blitz.

Pra fazer o que precisa a policia não presta, mas pra atrapalhar os planos de um idealista é pra já. Param o cara, olham porta mala.

E se olhassem meu porta mala… não seria uma surpresa… Seria o fracasso do meu plano!

Quem vê pensa que eles estão levando a sério o serviço. Como se a gente não soubesse que os bandidos tem passagem livre…

Tinha que ser de ônibus. Em qual rodoviária alguém iria desconfiar de um velho viajando com algumas caixas?

Mas o importante é que cheguei.

Amanhã começo.

Tem que ser logo, pois aquele pilantra já está de viagem marcada pra China.

E ainda tenho que fazer muitos testes para que meu plano dê certo e para meu produto ficar viável.

Se não terminar logo não dará tempo desse presidente abestado levá-lo pra China, no final do ano...