Envelhecer

É obvio, mas é assim. A gente envelhece. Um dos sinais é que a maior parte dos nossos amigos e amigas tornaram-se avós. E como isso rende histórias... Entremeando-as quase sempre tem um “as crianças de hoje não são como as de antigamente, parece que já nascem sabendo de tudo”. Esse “tudo sabem” vem associado, na maioria das vezes, à tecnologia, especialmente no uso do celular. O que esses meninos e meninas fazem com essas maquininhas não está no gibi. Não só dominam tudo, e mais alguma coisa, como sabem ser cruéis -“você não sabe isso, vô?”- , diante da incompetência dos velhinhos ao lidar com essas engenhocas. Por essa via cada um tem um “causo” mais interessante que o do outro a contar, mais parecendo uma competição para ver “qual o neto é mais sabido”.

Há histórias que fogem da tecnologia e caem na observação aguçada que essas crianças têm. Foi o caso do avô que negou o picolé, alegando estar sem dinheiro para comprar, e a pirralha, do alto dos seus quase quatro anos argumentou que “o vendedor aceita Pix, vô!”. Invente outra!

Assim é ser avô, o lado interessante de envelhecer, que nos leva a inventar coisas para estar com os netos. No meu caso, cozinhar para eles aos sábados, ajustando o prato ao paladar de cada um, fazendo o suco com a fruta mais apreciada, além de escolher o sorvete com o sabor que mais apetece o gosto individual. A recompensa? Há coisa melhor do que ouvir um “o senhor hoje se superou, vô” ou “esse suco é o melhor que eu já tomei”?

É claro que envelhecer, além do lado bom da convivência com esses pequeninos, tem também as dores, que ninguém é de ferro (e até o ferro enferruja, sabia?). Mas uma geriatra aqui, um fisioterapeuta ali, uma musculação acolá, e a gente vai levando, mesmo que aos trancos e barrancos. Basta lembrar que outras dores, à época insuportáveis, como as de amor, que a gente pensava que não passariam nunca, se foram... E quem não lembra do coração perguntando, “que prazer tem bater, se ela não vai ouvir?”. Mas sobrevivemos.

Aí chega Alain Delon, o ator francês, com 86 anos, que teve “o sol por testemunha” do seu sucesso, pra dizer que desistiu de viver. Isso mesmo! Em um perfil nas redes sociais ele se despede de todos os que o acompanharam, anunciando a sua decisão de dar fim à vida num “suicídio assistido”, a conhecida eutanásia. Pra quem chegou agora, o ator foi considerado entre os anos 60 e 70, um símbolo sexual e até se dizia que havia o homem bonito, o muito bonito, e Alain Delon.

Argumento dele? “Nunca gostei de envelhecer, todas essas dores e dificuldades que tenho que enfrentar diariamente me deixam imóvel diante de tudo”. Mas não é assim que se dá com todo mundo? Desistiremos todos, então? De minha parte, “tô fora”, e prefiro ficar com a “pureza da resposta das crianças, pois a vida é bonita e é bonita”. Com os netos então...

Fleal
Enviado por Fleal em 29/03/2022
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