TARDES DE DOMINGO

(Extraído do livro “Tute - Brincadeiras de Papel” do autor Samuel De Leonardo – Tute)

“Em cada despedida de uma tarde de domingo ficou uma lembrança. Em cada lembrança a sensação de que fora uma despedida transitória.” – MeninoTute

Naqueles anos 1970, assim como os nossos embalos de sábado à noite com reuniões entre amigos e bailinhos na garagem foram marcantes, as tardes de domingo igualmente nos deixaram saudades. Sem muitos recursos para o lazer, procurávamos lugares que pouco ou quase nada nos custavam. Sendo essa a condição quase essencial, era em comum acordo que, de improviso, escolhíamos os passeios. Raras vezes os destinos foram antecipados.

No decorrer da semana, no pátio da escola, combinávamos os encontros em frente ao colégio Daniel Paulo Verano Pontes ou Lourival Gomes Machado – em algumas ocasiões na casa dos irmãos Edinho e Luizinho. Desses pontos partíamos em turmas de até quinze jovens, formadas por amigos e amigas. Trago na memória cada uma dessas pessoas com as quais passei inesquecíveis tardes de domingo. Luizinho, Neco, Benê, Zé Carlos, Sérgio, Eugênio, Marcinha, Marcia (Borges), Miriam (Assis), Miriam (Mimia), Fátima (portuguesa), Fátima (francesa), Matilde, Iza, Soninha, Ângela, Lúcia, Fernanda e os saudosos Neide, Edinho e Odair – as vezes nem todos estavam juntos ao mesmo tempo.

Os passeios na Cidade Universitária, no Campus da USP, eram quase rotineiros. Cada cantinho daquele lugar – o nosso "playground" e espaço predileto de todos – nos era familiar. Mas, as jornadas não ficavam somente por lá. Por vezes, nos deslocávamos em aventuras até o Instituto Butantã, Pico do Jaraguá, Museu do Ipiranga, Parque do Ibirapuera e Aeroporto de Congonhas. Lembro-me de uma única vez termos ido ao Playcenter.

Quando não interessava nos afastar da região, seguíamos em bando para a casa do Roberto, que juntara-se à nossa turma, para ouvir discos no seu novo aparelho de alta-fidelidade. Ao término dessa agitação, nos sentíamos recarregados para enfrentar a "segundona" e partíamos para nossas casas, sem uma despedida formal, com a certeza de que aquela não seria a última tarde de domingo.

Hoje penso que, de repente, alguém tenha partido sem se despedir. Se houve uma despedida talvez tenha sido triste. Quem sabe? Talvez tenha sido melhor assim, apenas uma separação transitória. Melhor pensar que nunca houve uma despedida. As circunstâncias é que nos separaram, cada um para o seu lado, sem combinar quando seria outra tarde de domingo. Mas elas têm um significado marcante em nossas vidas e, as lembranças de cada um daqueles momentos, preenchem o espaço vazio quando a solidão nos abate.

Deixe-me confidenciar: penso que é permitido guardar uma leve tristeza, e também uma imensa alegria ao recordar aquelas tardes; que não é proibido confessar que às vezes se tem saudades. Deixe-me dizer que a separação traz um inexplicável sentimento da falta. Deixe-me pensar que foram momentos perfeitos que passaram, mas que não se perderam e nem foram em vão. Deixe-me sonhar que cada uma daquelas imagens indefinidas, que surgem na escuridão de um sonho confuso, são acenos de um daqueles amigos em despedida de uma tarde de domingo.

Também não custa nada imaginar que haverá outras tardes de domingo e, se assim for, estaremos prontos com o mesmo entusiasmo juvenil e com a mesma emoção de outrora que hoje se misturam com a palavra saudade. Saudade de uma tarde, não de uma tarde qualquer. Saudade de uma tarde de domingo.