Comandante Negro

Quando o governo militar recrudesceu seus Atos Institucionais, implantando o AI5, não esperava que o mesmo fosse atingir seu próprio pessoal dentro das unidades militares de ensino.

À época tal Ato ficou conhecido nos meios estudantis como o "AI do Estudante".

Acontece que alguns segmentos de comandos dentro das unidades militares passaram a entender tais militares universitários, que serviam dentro dos próprios quarteis, como "pessoas de desvios ideológicos".

Quando o problema começou a se agravar a Diretoria de Ensino resolveu cambiar alguns desses militares universitários para fazer parte do ciclo de professores das escolas preparatória de oficiais. Cuja função precípua era fazer tais alunos - como futuros oficias - a aprenderem a "fazer o dever de casa"; para, lá na frente, quando estivessem no comando de órgãos militares, não perseguissem os militares universitários que estivessem servindo dentro da própria Caserna.

Acontece que muitos desses militares que faziam universidades, mas que foram destinados a comandar aquelas escolas de preparação para oficiais, eram oriundos de Escolas de Praças. O que não agradou em nada a alunada desses respectivos estabelecimentos de preparação de oficiais.

De modo que o problema foi para na imprensa e na televisão. A principal argumentação dos alunos de Academias era a de que o oficial (negro) que passou a comandar aquela Unidade de Ensino, além de ser oriundo de Escolas de Recrutas não tinha Curso de Comando. Na mídia o oficial questionado buscou se justificar alegando que estava ali como Diretor e não como Comandante. Por ali ser um órgão de Diretoria de Ensino e não um navio.

Eu, como militar universitário, tive o privilégio de participar desses eventos. Todavia, hoje, já idoso, verifico que somei mais prejuízos que lucros. Com três cursos superiores inconclusos e algumas promoções cerceadas.

Edmilson N Soares
Enviado por Edmilson N Soares em 03/04/2022
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