AMOR A SOMBRA DO PÉ DE INGÁ

A jovem menina em flor com os cheiros dos marmeleiros, cheiro de chuva quando molha o chão, simples era sua vida de trabalho e devoção. Devoção aos mais velhos, aos pais, aos santos, ritos e procissões. Suave foi o olhar tímido e ingênuo lembrando a surpresa de um natal distante. Ah quanto preconceito! Tantas segregações! A terra seus muitos donos, que ao final só possuem o usufruto dos sete palmos abaixo do chão! A menina matutinha do sertão sonhava lembrando um sorriso, na inocência dos sonhos de amor, na saudade de uma imaginação tão pura, tão breve, tão fugaz.

O vestido rodado, os encontros as escondidas para jurar um amor proibido, guardado as sete chaves, em sete estações. A lida dos homens na roça e a cabocla sertaneja guarda o suspiro no peito e faceira acompanha sua mãe, e ao passar vestida de flor olha de rabo de olho e encanta o seu amado.

Passam-se os anos, na busca do poço, a agua que molda a terra ressequida, a agua que canta e produz o som da esperança, a sombra do pé de ingá tudo se renova. O pai a impedir, proibir e escoltar, o tempo passa, os anos acordam insólitos fantasmas, perguntas que nunca obtiveram respostas, medos se avolumam, mas o aperto de mão, símbolo oculto de confirmação de que apesar de tudo o sentimento insiste em permanecer crescendo.

Então chega o recado a proposta de fugir e então o pavor da separação dos pais e o medo insuportável de não ter sua benção, assombra a ausência do afeto negado, então a renúncia se faz!

Renúncia de um amor, renúncia de uma vida, e quando chega a notícia do casamento a mulher de hoje chora o amor negado da juventude, sendo fiel a seu amor a mulher vê os irmãos e irmãs que criou casarem-se e ir-se pelo mundo. Por onde andaria o seu amor... Talvez ainda cultive a terra, talvez ainda ande nas renovações, talvez ainda discretamente molhe os olhos e com o olhar marejado passe a sombra do ingá, e aviste o poço profundo de suas emoções, e como é difícil reter o suspiro, pois a memória surge a lembrança do vulto de sua amada, carregando na cabeça uma lata com agua e no coração um segredo.

Thércia Lucena Grangeiro Maranhão
Enviado por Thércia Lucena Grangeiro Maranhão em 07/04/2022
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