DISCUSSÃO ALOPRADA

Lembro sempre da minha Tia (madrinha Maria) em momentos pitorescos que acontecem comigo, porque além dela ser uma excelente observadora do cotidiano humano, ela sempre tinha à mão um caderninho, uma folha em branco, ou até mesmo um embrulho de pão, onde escrevia suas observações e lampejos que aconteciam durante seus trajetos indo e voltando para casa...

Escrevia sobre o ridículo humano, o cômico, o banal... Escrevia dentro dos ônibus, na fila do supermercado, ou até mesmo quando estava aguardando para ser atendida num consultório médico... Eram coisas normais e até anormais que estavam acontecendo com certas pessoas e que dariam um livro engraçadíssimo sobre o nosso cotidiano.

Não chego a esse ponto de maneira alguma, mas de vez em quando, tenho esses estalos, mas com certeza, não ando com um caderninho ou folhas em branco, nem tão pouco uma caneta para anotar esses acontecimentos.

Outro dia, voltando do almoço, cruzo com uma turma de jovens que estavam conversando numa esquina com os ânimos, um tanto quanto aumentado, mas vinha sem nenhuma intenção de escutar o que falavam...

E sem ter pra quê, um deles solta a frase hilária que me pegou no momento exato que passava por eles: - Besteira cara, as vezes o “Caba” “arruma” uma “mulé” que não tem “fi” e é a besta fera dos infernos...

Por pouco não paro para continuar escutando o “proseio” dos ”cabras”!!!

Mas meu tempo é curtíssimo para o almoço e jamais pararia para ficar escutando conversas alheias... Saí me acabando de rir e na hora senti falta de uma caneta e um pedaço de papel, me veio à mente minha querida Tia...

Ao chegar no trabalho, a primeira coisa que vejo é um envelope desses que colocam dinheiro ou cheque dentro... pego imediatamente e anoto a prosopopeia e passo a tarde inteira rindo dessa besteira...

Pode até parecer besteira, mas os caras estavam numa discussão tão acalorada e animada que me veio a vontade de escrever o modo de falar tão peculiar do nosso povo Nordestino que poucas pessoas de outras regiões ou países saberiam o significado.

E olhando direitinho para a frase do “Caba”, parece mesmo que ele estava com toda razão!

Esse envelope estava guardado na minha bolsa, já faz uns meses e eu sem tempo, nem lembranças para colocar num texto... Foi agora.

Olinda, final de Primavera de 2021.

Gusto.