Meu inverno interior

Absorto em meus pensamentos, olho preguiçosamente através da janela do carro.

Chove.

Grossas gotas furiosas são imperiosamente lançadas contra o vidro.

Faz frio.

O vento ruge com a eloquência de um sôfrego.

Os caminhantes andam com rapidez, buscando se esconder, alheios a mim, que os observa.

Espessas poças se formaram ao entorno de um bueiro, trazendo à vida um intrépido redemoinho, que gira com rapidez, engolindo as folhas que por desaviso ousaram chegar ao seu encalço.

Que dia triste, argumento de forma melancólica.

A cidade se tornou cinza.

Alheio a isso, está um menino. Olha. Para. Dança na chuva, feliz com o presente. Suas risadas chamam atenção dos rápidos transeuntes, que observam com desaprovação.

Ele é a personificação da felicidade.

Um rápido pensamento me ocorre.

Seria eu ou o dia, triste?

Estaria cinza meu interior como o céu, desfilando como um pesado manto?

O sinal abre, carros buzinam atrás de mim, me instigando a seguir.

Olho mais uma vez para o menino. Já fui assim? Não me lembro. Invejo-o.

Ele contrasta com o tempo.

Mais carros buzinam, pessoas gritam. Acelero meu carro enquanto me invade a certeza.

Sou eu triste, não o dia.

Matheus R Botelho
Enviado por Matheus R Botelho em 11/04/2022
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