A MORTE ANDA DE BRANCO 

 

 

     Ao contrário como todos apregoam a “morte” não vem nem anda só com seu manto negro, tenebroso, sombrio. Os seus olhos podem brilhar também ao invés de refletir só trevas. Na sua mão, ao invés de sua foice, de seu alfanje, instrumento para sua ação podante, poderá existir outro utensílio como, por exemplo, um muito utilizado na escrita, uma caneta. Seu cheiro olente e sua califonia podem ser percebidos como uma intrujice. Poderá ostentar vestes pomposas, procurando enganar e ludibriar de forma obumbrada. No meio de um sorriso ou por trás de um beijo, poderá estar à figura de Judas Iscariotes.

 

     Ao contrário como todos apregoam, Ela, a “Morte”, não é um pássaro negro, ela pode assumir a forma de uma pomba reluzente, e enganar a todos com seu canto até escusável. Pra ela, ser honesto, profissional, ladrão ou marginal dá no mesmo, são coisas que no fundo tem o mesmo fim, são bajestos. Ela é uma raposa velha. E a raposa quando quer apanhar galinhas, ela vem sorrateira, sem fazer barulho, orgulhosa. Por isso, uma raposa dentro de um galinheiro é um perigo para todos. Tomando em má comparação, ela é como o mar quando agitado, revolto, leva medo e pânico a todos que estão a navegar em suas águas outrora calmas e tranquilas. E aí o ensinamento: um velho lobo do mar não se deixa enganar pela calmaria aparente dos ventos, pois nuvens pesadas poderão surgir logo à frente.

 

     A ingerência de seus atos é uma de suas marcas registradas aliada a sua capacidade friorenta de contristar os seres. Seu autoritarismo chega ao burlesco de sua vaidade e de seu talante. Caro amigos, ela não anda só, possui ministros, seus anjos de asas cortadas. Suas trombetas não são ouvidas por ninguém, são notas de uma melodia nefária, onde só o ouvinte especial tem acesso. Com certeza sempre sairá pertransido deste concerto macabro. Cuidado com os anjos emissários! Eles podem tocar pra você! E no seu encontro com “ela”, “ela” pode não estar de preto, porque “ela” também anda de branco. Mas acreditem sempre em vocês mesmos, façam do medo sua coragem e viverão eternamente, por que sempre após uma noite, seja fria ou de plena escuridão, na manhã seguinte o sol continuará a brilhar para todos nós...

Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 17/04/2022
Reeditado em 19/04/2022
Código do texto: T7496846
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