VIÉS POLÍTICO

Se bem pensado, temos apenas três formas de convivência político social: anarquia, ditadura e democracia.

Por sermos seres sociais cuja organização exige a existência de líder e divisão de funções/classes, a anarquia é inviável.

A ditadura, muitas vezes camuflada sob denominações ilusórias, é exercida individualmente ou através de grupos, geralmente com nível cultural bem acima da maioria que forma a classe dominada que, em última análise, recebe apenas o ônus de tal regime visto que os bônus ficam sempre com os integrantes da classe dominante, os quais não hesitam ao lançar mão de quaisquer alternativas para permanecerem no poder. Estão nesse pacote as ditaduras teocráticas, socialistas, comunistas e as monarquias absolutas todas escudadas por parlamento dócil e inoperante.

Resta-nos a democracia que tanto pode ser exercida diretamente pelos habitantes de determinado local, como nos cantões da Suíça; pelo parlamento central, como na maioria dos países ou por parlamentos descentralizados, porém unidos em federação, cujo melhor exemplo são os Estados Unidos da América.

Há quem defina a democracia como a “convivência dos contrários” e exatamente por essa característica é um regime frágil, suscetível ao aparecimento de déspotas como se viu na administração da pandemia e que também por isso exige constante vigilância de todos os agentes envolvidos no processo de sua manutenção.

É o regime que possibilita a formação da classe média que é a principal pagadora de impostos, que oferece a franca possibilidade de ascenção social e o livre acesso à instrução formal, que privilegia a livre iniciativa e a meritocracia.

A nós brasileiros falta muito chão a ser percorrido para termos uma democracia digna deste nome. Somos um país muito novo visto que a primeira expedição portuguesa para colonizar a nova terra, chegou em 1531, portanto menos de 500 anos.

Fomos colônia de Portugal até 1815, quando D. João, então príncipe regente, elevou o Brasil à categoria de reino unido e a independência proclamada em 1822, ainda não completou 200 anos. Fomos, somos e ainda seremos em país eminentemente agrícola, que sempre exigiu muita mão de obra de bestas e humanos para o seu sucesso.

Apenas no final do século passado, portanto há menos de 50 anos, a revolução no campo feita pelo Ministro Alysson Paolinelli, foi que começamos a substituição do serviço braçal pelas máquinas e a consequência disso é que a mão de obra ociosa, em sua maioria analfabeta ou de baixíssima instrução formal, veio engordar as favelas nas periferias das cidades, eternamente desassistidas pelo poder público desde a sua criação pelos ex combatentes da guerra contra o Paraguai (1864/70) e por cativos alforriados antes ou depois de 1888.

Os governantes do Brasil desde a Proclamação da República (15/11/1889) não priorizaram a instrução do povo brasileiro. Salvo alguns privilegiados que tiveram acesso a instrução e se notabilizaram na política, nas artes ou literatura, a maioria ainda hoje sofre as consequências do descaso com a linguagem oficial e as matérias das ciências exatas que, em última análise, são o arcabouço do desenvolvimento das nações. Somos e ainda seremos por longo tempo consumidores de tecnologia estrangeira, exportadores de matérias in natura e importadores de manufaturados, porque instruir o povo não é bom para os projetos de permanência de poder dos políticos que não se envergonham de termos 33 partidos políticos registrados no excrescente TSE, e cujo único objetivo é se locupletar das imorais, ainda que legais, verbas dos fundos partidários e para campanha eleitoral.

Vale salientar que os estatutos desses partidos são todos iguais, assim como os seus programas de governo que visam; manutenção de privilégios, da escorchante carga tributária e a dependência do cidadão às benesses do Estado como tutor absoluto de tudo e de todos.