"25 de Abril" ou "A Revolução dos Cravos"

A repressão salazarista, além da espionagem interna, constante, surda, à maneira da Inquisição baseada na denúncia, baseava-se no medo da prisão e consequentemente, da tortura.

É sempre conveniente recordar o número de campos de concentração salazaristas:

Além das prisões políticas portuguesas mais conhecidas, Aljube, Peniche, Caxias, Forte de Elvas, e Açores, e além do campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde - provavelmente o mais conhecido -, o regime salazarista criou vários outros campos de concentração, de que não se fala. Talvez porque eram remetidos para locais tão remotos que o grande público nem deles se apercebia... Numa pequena pesquisa pela Net, encontraremos:

Em Moçambique: Machava, Summershield e Mabalana,

Em Cabo Verde: Tarrafal de São Nicolau e Tarrafal de Santiago,

Em Angola: São Nicolau, Missombo e Bié,

Na Guiné-Bissau: ilha das Galinhas,

Timor-Leste: Viqueque e Ataúro.

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Mas a repressão não se limitava à denúncia e às prisões. Tinha como suporte a manutenção do analfabetismo, a distinção entre Ensino para "ricos" - o ensino liceal - e ensino para "pobres" - o ensino técnico profissional. Não que o "ensino técnico" fosse mau em si. Mas baseava-se numa filosofia perversa, assente na diferente abordagem das matérias. Por exemplo, a História, no Ensino Técnico, era abreviada em comparação com o programa liceal. O Português não preparava para estudos de Humanidades como no estudo liceal. No chamado Ciclo Preparatório, o programa de Português apelava ao patriotismo e ao heroísmo, com o manual "Portugal Gigante".

O currículo do ensino primário obrigatório foi reduzido dos 5 anos na I República, para 4 anos. E em meados da década de '50 (do século XX), foi ainda reduzido de 4 para 3 anos para as meninas.

Por outro lado, nas aldeias recônditas do Interior, foram colocadas Regentes Escolares, em geral raparigas com a 4ª classe, sem o suporte de conhecimentos adequados nem formação pedagógica.

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Ainda quanto ao Ensino Primário, há que referir que os livros de leitura da 1ª à 3ª classes eram formatados no estilo de "livro único". Como "leituras complementares" à margem do texto principal, reproduziam-se poemas dos Poetas do Integralismo Lusitano, a corrente conservadora que apoiava o regime. Assim, a ideologia e sobretudo a sensibilidade da passagem do século XIX ao século XX, ultrapassadas no resto da Europa, foram sendo inoculadas na cultura portuguesa através das sucessivas gerações de portugueses.

Talvez aí se possa encontrar uma boa razão para a propensão para o amor ao estilo musical do Fado, e de este ter sido elevado à categoria de "canção nacional"... Por outro lado, o livro de Leitura da 1ª classe era visivelmente decalcado do livro de leitura italiano, do regime de Mussolini.

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Relacionado com as condicionantes impostas à Educação, temos o regime de apertada Censura, tanto sobre a Informação como sobre as publicações.

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Detalhes como a pobreza, a repressão, os salários baixos prendendo o operariado e o campesinato à luta pela sobrevivência precária, são mais conhecidos. Mas a repressão através da Educação, limitada e elitista, não são do conhecimento geral.

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Outro aspecto do regime salazarista diz respeito à Emigração. Como é sabido, houve grande escoamento da população portuguesa devido à Emigração, que ao longo das décadas foi assumindo diferentes matizes.

Foi a emigração dos nossos camponeses analfabetos que deu no Estrangeiro a imagem de um país atrasado e ignorante.

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Finalmente, a gota de água que fez transbordar a taça foi a Guerra Colonial. Uma guerra que surgiu devido à casmurrice de um líder antiquado. A Guerra Colonial durou terríveis 13 anos, entre 1961 e 1964, numa época em que já se deveria saber, de antemão, que seria perdida por parte do Colonizador, como acontecia com a França, que perdeu a Guerra da Indochina, entre 1946 e 1954, e a Guerra da Libertação da Argélia, entre 1954 e 1962.

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Leituras Complementares

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Baixas na guerra colonial são maiores do que se pensava

Além das 10 mil baixas de militares, mais de 45 mil civis e agentes de movimentos independentistas teriam sido mortos.

"Os Números da Guerra de África", de Pedro de Sousa, contrariam os dados oficiais.

https://www.dw.com/pt-002/baixas-na-guerra-colonial-s%C3%A3o-maiores-do-que-se-pensava/a-59132358

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Myriam

25 de Abril de 2022

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Lamento muito, muito mesmo, mas não consigo descobrir

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Mas quero deixar claro que os AGRADEÇO de todo o coração,

e que eles são sempre um incentivo para continuar

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os temas que mais me apaixonam -

a Literatura, e

a História - antiga, ou recente.

Muito grata a ambas as minhas Amigas,

Juli LIma

e

Jajá de Guaciaba!

MYRIAM

Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 25/04/2022
Reeditado em 25/04/2022
Código do texto: T7502532
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