Vira-latismo

Há décadas Nelson Rodrigues levantou a lebre do complexo de vira-lata e, com isso, marcou um golaço! O termo não se popularizou entre a massa mas fazemos juz a ele. Quem não gosta de um bom importado? Sei que há muitas variáveis envolvidas nesse lance, tantas que dariam um livro - ou vários - mas não é minha intenção discuti-las aqui. Sigamos.

Quando eu era criança, mas bem pequeno mesmo, meu irmão mais velho contou-me uma passagem com um professor dele. Não sei, ou não me lembro, em que contexto se deu e nem o nome do professor ou que matéria lecionava. Não sei também se o que eu imprimi aqui é fiel ou se, com o passar dos anos, meu inconsciente incrementou o relato mas a essência permanece até hoje. O professor disse que o brasileiro se menospreza tanto que até as frutas desta nossa Pindorama ganham sentido pejorativo nas conversas de botequim. O comparativo é feito, em sua maioria, com frutas de países desenvolvidos. E a lógica é comprovada.

Comecemos pelo tolo, estúpido, abobado. Além de sambanga, sonso e quaieira, por exemplo, esse tipo não passa de um grande panha-manga, um goiaba! Nos traços físicos, o olho escuro é um zoião de jabuticaba; do contrário, são duas amêndoas... E os seios? Em excesso, são mamões ou melões; pequenos e firmes, são duas cerejas, as mesmas dos bolos. Quanto à pele, se é hidratada, é um pêssego; se enrugada, é um maracujá de gaveta. Sendo a pessoa bem nutrida, notam-se as maçãs do rosto; do contrário, parece estar com duas macaúvas na boca.

Os problemas, o que são? Abacaxis. Para ofender, uma banana! O testa de ferro é o laranja, e a laranja podre estraga as demais. E o cara de mal com a vida? Azedo feito um limão. O de pança avantajada, nem se fala: parece que engoliu uma melancia! Aliás, tenho um amigo cujo apelido é Melancia justamente pelo seu porte físico. Nem os acidentes são perdoados porque se cai como uma jaca podre e, se cai de cabeça, mete-se o coco no chão. Vou parar por aqui, antes que eu pise no tomate. Mas... tomate não é fruta, né? É? Aí já é outra história.

Antônio Carlos Policer
Enviado por Antônio Carlos Policer em 26/04/2022
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