- Mas cabe tudo isso em 27 metros quadrados? Não creio!

 

É isso! De acordo com as informacões dos setores imobiliários de São Paulo, nos últimos dois trimestres, a procura por imóveis desse porte aumentou em 70%, sendo eles considerados os mais procurados e comercializados, desde 2020.

 

Para os grandes latifundiários de épocas perdidas, isso seria um sacrilégio. Não que as produções agrícolas se comparem à moradia, propriamente dita, mas viver num labirinto não deve ser tão confortável. Mulheres que o digam, os bicos finos de sapatos não as deixam mentir sobre a impropriedade de pertencencimento, logo, se tiver que fazer força para entrar, não te cabe.

 

Abro a porta do cubículo 3 estrelas e, num olhar panorâmico, lá estão a cozinha, a sala, o quarto e o banheiro. Tudo visto sem esforço algum e nenhum tipo de movimento. Atualizei minhas referências sobre apertadinho, puxadinho, barraquinho. A classe média baixa tem apartamentinho, flat'tizinho, ap'zinho.

 

Há quem diga que a nova ordem mundial não permite o uso de construções horizontais.  A população cresce e com ela o espaço se perde.

 

Há também uma supremacia econômica que beneficia alguns, e em contrapartida, afasta outros. Mas isso, é uma questão de disparidade social e de reforma agrária, expressões estas, que foram assassinadas por algumas ideologias partidárias e distorceram seu conceito pedagógico.

 

Mas se a moda pegar e as construções verticais se tornarem a única alternativa, ao menos, teremos uma sala cheia, já que em tempos de tecnologia, cada um ocupa um espaço e a única comunicação é feita via redes sociais, até para chamar para o almoço. Fácil, não? Difícil é conviver.

 

E por falar nisso, acabei de ver uma declaração de amor do meu vizinho numa rede social de grande repercussão. Linda! Deu até inveja (branca, é claro). Era uma espécie de carta de amor pública, em que se desculpava pelas vezes que tinha sido ausente e não valorizado o romance. Mas ontem, no elevador, ela (a esposa amada) veio reclamando do tempo em que ele permanece no celular e da falta de empatia para lidar com os problemas do dia a dia da família.

 

Não que adorne minha boca com um equipamento frito tromba de elefante (língua grande, fifi) longe disso, mas ela disse que a casa era grande demais para a família, que só se encontrava durante o café da manhã, de resto, cada um fechado no seu quadrado.

 

Como sou solidária, sugeri um ap'zinho moderno de 27 metros quadrados para que pudessem se ver mais vezes, okhar nos olhos, quebrarem o "pau". Ela riu, meio sem graça, dizendo que não daria conta de viver sem privacidade.

 

Então olheibpro seu e fiz um abano com a cabeça: Sim, Deus se sente (frustrado), coitado. Nunca agradará a todos. Oh povinho difícil, viu. Entre eles, eu! 

 

- Apartamento pequeno, não! Pelo amor de Deus, moço. Já não tenho quintal, não tenho plantinhas gigantes e perder o espaço que faria circular o ar, é demais. Vamos brincar de carrinho de batida é? Dando choques uns nos outros? Poupe a humanidade da minha rabugice.

 

- Mas tem ar condicionado. Tem circulador de ar. Tem gás embutido, tem energia solar, tem poucas partes para limpar. Vai lhe sobrar tempo... Pense!

 

- Tempo para viver enclausurada? Não estaríamos nós diante de uma nova vertente social? Isso daria um ensaio: A prisão domiciliar moderna. E como a maioria das prisões no Brasil, falência do sistema. Superlotacão! Se levar em conta o perfil das famílias brasileiras... O ponto nevrálgico estaria no alimento gratuito que os presidiários tem e os presos modernos do ap'zinho não, porque nos últimos tempos, para nós, meros mortais atravessadores do dinheiro adquirido com honestidade e esforço, comer tem virado um pesadelo. Já viu os preços dos alimentos? Inflação de salto alto pisando na economia. Presunçosa ela!

 

E lá se foram, à procura de um apartamento médio, preço justo e sem colunas no meio da sala... Uma missão quase impossível... A não ser que... Tom Cruise!

 

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 27/04/2022
Reeditado em 28/04/2022
Código do texto: T7504317
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