Recordações de família

Atualmente é tão difícil de acontecer aquelas maravilhosas reuniões de família que eram comuns na minha época de infância. Qualquer coisa era motivo para a família se reunir: um café da tarde, a visita de parentes distantes, uma prosa na calçada sentados debaixo da árvore, os avós contando histórias aos netinhos e até o jogo de truco dos homens enquanto as mulheres papeavam e os guris brincavam.

Minha vida lá no interior do Paraná era assim. Tanto na cidade de Barbosa Ferraz, quanto em sua zona rural no bairro São Judas Tadeu, minha infância foi repleta de maravilhosos e inesquecíveis momentos em família, fatos estes que ficaram gravados por todo o sempre em minha memória afetiva.

Falando em recordações, até que sou bom em relembrar os fatos passados em minha vida, pois lembro nitidamente de cenas passadas desde os meus quatro anos de idade como se tivessem ocorrido hoje. E espero que assim eu continue até quando a idade avançada me alcançar pois terei ainda muitas outras histórias para contar.

Uma dessas doces lembranças de família que eu tenho vem lá do sítio da família no bairro São Judas Tadeu. A casa de madeira onde moravam meus tios Ditão, Cristiano, Joaquim e Cida infelizmente não existe mais, deu lugar à lavoura de soja e outras culturas agrícolas. Mas os momentos ternos vividos nesse lar abençoado por Deus ficarão para sempre gravados em meu coração.

Lá na sede do Sítio ocorriam deliciosos almoços, regados a cerveja para os adultos e tubaína para os pequenos, além de um suculento churrasco que até hoje ainda me dá água na boca só de lembrar. Minha mãe era responsável pela maionese e tio Joaquim fazia o alvíssimo arroz e a couve com farinha de milho bem amarelinha. O churrasco era preparado na churrasqueira que ficava no quintal e as peças de carne eram assadas por inteiro. Depois os espetos eram colocados em suporte direto na mesa e a gente mesmo ia se servindo, tirando aquelas lascas de carne com gordurinha, acrescentado farinha de mandioca e vinagrete.

Enquanto ia ocorrendo a parte gastronômica do encontro de família, paralelamente tínhamos a roda de viola conduzida pela nossa dupla familiar Ditão & Cristiano Carvalho, quando a viola chorava largada com as modas de Tião Carreiro & Pardinho, Zico & Zéca, Liu & Léo, Cacique & Pajé, Carreiro & Carreirinho, Zé Fortuna & Pintangueira, além de muitos outros nomes da nossa música sertaneja de raiz.

As crianças divertiam-se ouvindo as modas de violas e os causos dos matutos mineiros, que foram morar no Paraná na década de 50. Mas também se aventuravam subindo nas árvores: grevíleas, santa-bárbaras, seringueiras e outras. Ou também nas goiabeiras, macieiras, pés de limão e outras do vasto pomar. Correr atrás das galinhas, irritar os bezerros, morrer de medo dentro da tulha ou brincar com o cachorro Sheik, também fazia parte da algazarra das crianças.

São preciosas memórias, que reavivam o que de mais puro e sincero existe, guardado bem lá no fundo do coração, possibilitando uma saudade sem fim desses momentos e principalmente daqueles parentes e amigos que já se foram. Um tempo que não volta mais, mas que nos inspira muito a parar um pouco e ver que a vida não é somente internet, televisão ou redes sociais. Que a vida em família, com diálogo e ternos encontros, vale a pena, pois deixará marcadas em nossa história, inesquecíveis e doces lembranças.

Publicado na Antologia "Família - Doces lembranças" - Páginas 68 e 69,

Editora: Perse (2019) - Projeto Apparere

PS: Meus tios Cristiano e Joaquim, que ainda estavam vivos por ocasião da publicação dessa crônica, infelizmente faleceram em 2021 em decorrência da Covid19.