Das Minhas Lembranças 25

Ainda sob os efeitos das comemorações da posse de Lula à presidência, em, 2003, as eleições municipais se aproximavam. Derrotar Ademir Lucas/PSDB, candidato à reeleição, era uma questão, que ia além da disputa política, em 2004. A perda de amigos e amigas num deslizamento de terra na Vila Julia Kubitschek (Bairro Industrial), devido ao descaso da prefeitura, deixou sequelas em mim e em minha família. Uma tragédia que poderia ter sido evitada se a prefeitura tivesse tomado medidas preventivas. Não foi por falta de avisos da diretoria da ACBI (Associação Comunitária do Bairro Industrial), da qual fui presidente e coordenador.

Assim, alegre com a chegada do PT à presidência, triste pela perda recente de dez amigos e amigas, soterrados, entrei de corpo e alma na campanha, que elegeu Marília Campos/PT, prefeita de Contagem, em 2004. Uma vitória que não pude comemorar, pois minha saúde física e mental fora abalada.

Terminada as apurações, num domingo, fui para casa, caí na cama e dormi. Até então não tinha consciência do meu estado de saúde. Posteriormente eu me lembraria de um momento, lá no comitê eleitoral, à Rua Tiradentes, de que sentira uma vertigem. Fui acordado por Eliana, depois de ter dormido das 19h de domingo, até por volta das 18h da segunda-feira. Acordei "grogue". Comi algo meio que à força. Não sentia o sabor. Atendendo ao chamado de Eliana, Gildete Martins e Nelsinho chegaram em minha casa e me levaram a uma emergência, em Betim. Na ocasião eu morava em Esmeraldas. Lá chegando, o Gil me deixou deitado sobre um banco de concreto, para ir ao guichê de atendimento. Dormi.

Levei um tempo para entender o que estava acontecendo. Eu me encontrava numa cadeira, diante de um médico, que me fez algumas perguntas. Os exames tinham sido feitos enquanto eu dormia. Isso já era por volta da meia-noite. E veio o diagnóstico: você é saudável, não tem nada. Não é possível, pensei, tem que ter algo.

Depois de uns dias de repouso, retornei às atividades. Respondia, com irritação, que sim, quando algum companheiro me perguntava se estava bem. Eu estava envolvido na transição de governo. A posse de Marília estava próxima. Havia disputa política de quem iria fazer parte do novo governo.

Nessa altura eu tinha certeza de que algo não ia bem com a minha saúde. Fui a um neurologista em Betim, que confirmou o diagnóstico do médico da emergência: do ponto de vista neurológico, você não tem nada. Não era possível. Ele não quis me encaminhar para exames. Por minha conta, fiz um eletroencefalograma e uma tomografia cerebral. De novo, nada. Como assim?, eu andava sentindo umas nuvens obscuras sobre minha cabeça, como disse um dia, em tom de brincadeira, ao Zé Geraldo e Gil. Meu sono continuava desorganizado. Dormia onde não podia, como em plena seção da câmara de vereadores. Esse transtorno só passou no dia em que Letícia marcou uma consulta com um médico do hospital municipal, que me receitou clonazepan. Eu estava num estresse profundo. Anos depois eu me livraria do clonazepan.

Um Minuto de Silêncio

1 – S onhavam seus sonhos e não

2 – O uviram quando a

3 – T erra tremeu

4 – E não acordaram a tempo de

5 – R ealizarem seus projetos de vida

6 – R achaduras no solo

7 – A nunciavam um possível

8 – D eslizamento como de fato

9 – O correu

10 S oterrando muitos e vitimando 10 vidas em 16 de janeiro de 2003.

Apesar do estresse, continuei a militância, participando de reuniões e assembleias para eleger os representantes da sociedade civil na conferência das cidades. Eleito representante por Contagem, no dia em que seria votado o delegado, que iria representar Minas Gerais, não dei conta. O companheiro José Carlos, então suplente, assumiu a tarefa. Participei na organização do movimento de transporte de passageiros, que resultou em licitação, e na legalização do transporte alternativo (perueiros). Contribui na implantação do orçamento participativo. Marquei presença, também, na conferência municipal de saúde.

2006 se aproximava, com novas eleições aos executivos e legislativos, estaduais e federais. Denúncias do mensalão abalavam o governo Lula e muitos petistas estavam desnorteados. Debilitado eu iria fazer parte do diretório municipal do PT/ Contagem.

No próximo capítulo, conto o que se passou.