Incongruências

Em alguns anos de magistério tenho colecionado falas que me soam incompatíveis e são absolutamente normais para quem as profere. Algumas me incomodam mais que as outras. A pior, claro, é: "Você é muito novinha, tá começando ainda, quando tiver experiência vai deixar de sonhar". Só não sei quando essa experiência vai chegar. Talvez por concordar com Shakespeare, que diz que seria uma tragédia se acreditássemos que sonho são bobagens, essa frase, que vive se repetindo, tanto me desgoste.

"Esse livro é ótimo, mas bom demais para esses alunos". Que verdade absoluta: livro bom é livro ruim. Para que serve livro mesmo? "Você estudou demais pra dar aula pra esses alunos". Professor que estuda muito é professor ruim. Para que estudar mesmo? Professor? Ou já sabe tudo ou é só ler os manuais e livros didáticos.

"Precisamos formar alunos críticos", "mas quem você pensa que é para discordar de uma ordem minha?". Os alunos devem criticar. E o que é criticar? Falar mal. Mal do governo. Da televisão. Do jogo de futebol. De qualquer um. Precisamos formar alunos que critiquem? Não. Que falem mal: dos outros.

E por aí vão as incoerências de nossa educação, ou de nossa sociedade. Procurar fazer o que é certo? É errado. "Você não é maleável". "As coisas não funcionam assim". "Quando tiver experiência vai entender". E quando vem essa experiência mesmo? "A teoria é uma coisa, a prática outra". Coisa mais óbvia, nem acredito que sai da boca de quem deveria ensinar. De qual teoria e qual prática estamos falando? Entender de teoria? É errado. De prática? É errado. Talvez devêssemos ter mais feriados...