FUTEBOL NA PRAÇA

Futebol na Praça

Corria o ano de 1920. Um cometa(viajante que passava pelas localidades, vendendo tecidos,

calçados, armarinhos e outros produtos), trazia mostruários dos tecidos e gravuras dos demais produtos. Vinha a cavalo e geralmente trazia um burro de carga com as amostras. Naquela época já existia aqui em Calambau uma ótima pensão do Sr.João Cândido Vidigal, na Praça Cônego Lopes, onde hoje é a casa do Renato Quintão.

Naquela visita o cometa trouxe uma novidade: uma bola de capota para o jogo de futebol. Era uma bola que possuía em uma abertura uma mangueirinha para ser enchida de ar com uma pequena bomba munual.Depois de cheia a mangueirinha era introduzida para dentro da capota onde ficava a câmara de ar.

Tudo bem. Para a criançada era uma grande novidade. O senhor Napoleão (os meninos o chamava de Pulião), o cometa, ensinava a garotada como chutar a bola. Os adultos também aderiram à ideia e foram logo a Viçosa comprar algumas bolas. Com a vinda do Dr.Cristovão para cá, o futebol foi introduzido em Calambau. Este médico era sobrinho do Padre Chiquinho, Pároco aqui deste 1.900. Era também jogador do Atlético de Viçosa e da diretoria deste clube e tratou logo de formar uma equipe aqui. Como ainda não havia um local para um campo, o treino era na Praça. Fincaram um gol em frente à igreja velha e o outro próximo à casa do Sr. Juca Quintão.

O Dr.. Cristovão ensinou para os “atletas” algumas regras do futebol e depois de algum tempo, indo à Piranga, ficou sabendo que lá já existia um time de futebol e tratou logo de marcar um jogo com esta equipe. Era o Piranga Esporte Clube, fundado em 1920. Explicou para eles como era o local do jogo aqui.

Chegando a Calambau o médico deu a notícia desta disputa. Foi um alvoroço, o comentário era geral. Foram à Viçosa, compraram chuteiras, meias e camisas para os jogadores, e mais uma bola. Tiveram que adiar a data da partida, pois alguns jogadores que nunca havia calçado

um sapato não se adaptaram com as chuteiras. Com mais alguns dias o problema foi sanado.

Alguns moradores da praça temiam para o que podia acontecer, pois as vidraças das janelas podiam ser quebradas...

A equipe local contava com os seguintes atletas: Matias e Gustavo de Moura, Ricardo Peixoto,

Caquim, José Marcelo, Olindo, Totone de Sá Emília, Levindo Chagas, Virgílio (pai do Manoel Calambau), Amantino e Geraldino Diogo, Cacau, Geraldo Quintão, Olívio e Leonídio Vidigal.

No time de Piranga jogavam: Andó, Quidó, Godó, José Idelfonso. José Benchiquim,José Reis,José Silvestre,Chico Aniceto,Luiz Cornélio,Geraldo Milagres,Amantino Pereira,Teteu,Luiz Romualdo(ainda estudante) e Oscarlino Romualdo.

Com grande expectativa da população chegou o dia do grande jogo. Na véspera foram tomadas

várias providências:- local onde seria alojada a delegação de Piranga- convite ao maestro Domingos do morro para com a banda de música ir receber os visitantes na entrada da Vila-

almoço para a turma de Piranga- um bom lanche para após o jogo, pois os visitantes voltariam para Piranga no mesmo dia.

O Pe.Chiquinho já havia avisado ao sobrinho que os calções dos jogadores deveriam atingir abaixo dos joelhos e que as mulheres ficassem em casa.

Delegação chegada às 10 horas, almoço, descanso até a uma hora e finalmente o jogo às duas.

As mulheres, como não poderiam ver o jogo, ficaram nas janelas entreabertas vendo os rapazes de Piranga pois os daqui já não chamavam mais muito a atenção delas.

Havia um porém, das três bolas que foram compradas, duas furaram nos treinos e o time de Piranga não trouxe nenhuma.

Antes de iniciar a partida o Dr.Cristovão fez um discurso saudando e dando boas vindas aos visitantes.

Com a partida muito disputada houve a primeira paralização, pois o Alfredo Quintão teimou-se em não fechar o seu boteco, e num forte chute do Oscarlino de Piranga a bola foi em sua direção e derrubou um litro de cachaça quebrando-o. O Alfredo ficou muito bravo e a situação foi contornada com os jogadores daqui pagando-lhe o prejuízo.

Aos trinta minutos de jogo a turma de Calambau abriu o placar por intermédio do Levindo Chagas escorando de cabeça um cruzamento do Olindo. A torcida invadiu o campo, digo a praça, e levou algum tempo para reinicio do jogo.No final do primeiro tempo houve um pênalti

Para o time de Piranga, que demorou a ser cobrado, pois alguns da equipe daqui queriam ele fosse cobrado com barreira. O Dr. Cristovão contornou a situação dizendo para os jogadores que pênalti não tem barreira.

Terminou o primeiro tempo com o placar de 1x1 e com alguns jogadores reclamando muito das chuteiras e dizendo que no segundo tempo jogariam descalços. Em uma disputa a bola

tomou a direção do morro da ponte. Alguns jogadores temerosos que ela caísse no rio correram para pegá-la.

Quando chegaram próximo à ponte viram a bola murcha, furada que fora por um homem que havia tomado umas e estava deitado ao lado da mesma e com uma faca na mão.

Perguntado por que fizera aquilo ele respondeu tranquilamente:- Eu estava deitado aqui neste canto tranquilamente, quando uma coisa bateu em minha cabeça, pensando que fosse um leitão do Sô João Cândido, arranquei de minha faca e a fisguei, pois aqui na praça vive cheia de porcos.

O juiz foi comunicado do ocorrido. Como não havia outra bola deu por encerrada a partida.

A maior parte dos jogadores achou bom, pois já estava com a goela seca de vontade de tomar uma água que boi não bebe...

Depois de um lanche caprichado a delegação de Piranga, com os cavalos descansados, retornou para a sua cidade com a alegria de ter participado deste jogo histórico.

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Esta crônica é meio real e meia ficção. Os nomes dos atletas são reais. Alguns dos nomes citados foram atletas famosos de Piranga e Calambau. Os não atletas até que poderiam um dia ter chutado uma bola...kkkkk

Murilo de Calambau

Calambau, 05/05/2022

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 10/05/2022
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