Pacata cidade de Minas, onde os profetas de cinza fazem guarda à Matriz. Os badalos do sino contam as horas. Nenhum atraso à vista. A não ser do próprio tempo que insiste em deixar marcas. O carro de som traz a notícia do velório do Ildeu, irmão do Elias, que trabalhava na COHAB. Parece que todo mundo é parente no interior. E de alguma forma o é. Encontro certo é com Marreco e sua bicicleta “avisante”:

- Promoção pra mocinha, lá na lingerie: calcinha!

De guarda-chuvas, espantando o sol, segue o Chapolin Colorido, pedalando na bicicletinha. Buzina de campainha pra atrair os desavisados de plantão na porta da esperança. Enquanto descansam os velhinhos na porta das casas com seus radinhos de pilha, soam as sirenes, avisando:

- Olha o perigo da barragem!

Duas faces de uma mesma moeda. Há quem diga que é a cara do Brasil essa dicotomia. Outros, porém, culpam a civilização colonizada pela coroa europeia e seus escambos. Mas, apesar dos embrolhos, a moeda não perde seu valor. E quando jogada pra cima, às vezes, cai de pé... E não é assim que esse cenário resiste? Que a calmaria vença e que os bons ventos assentem suas memórias no corredor dessa vizinhança. É coração de Minas. Quanto a mim? Estacionei no tempo.

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 10/05/2022
Reeditado em 10/05/2022
Código do texto: T7513181
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