QUEM

De vez em quando dou uma folheada nas revistas QUEM, desde que alguém compre para eu ler. Gosto de estar bem informado. Um universo que não faz parte do meu mundo e que é muito interessante, para quem olha de longe.

A matéria tratava de um casamento na UTI. Para dar uma força moral, a revista colocou o histórico do passado recente da moça, com direito a fotos dos casais. E eram uns quantos. Achei interessante que só mostraram o dela.

Alguns jovens não casam, juntam-se quando a moça fica grávida, sinal de responsabilidade. Isto porque nas conversas de botequim basta alguém dizer, ¨E a Mariazinha?¨. Já andou com o João, com o José, o Pedro, o Mário, o Valter, o Paulo, outros que não lembro e falam à boca nem tão pequena que também com Joaninha.

A revista tratava dos filhos da atriz famosa. O Pedro Jr. com o diretor, o Miguel com o ator daquela novela que fizeram juntos e a Miriam, a mais novinha, com o manequim, mais jovem, estrangeiro, com quem ela vive, mas só quando vai a Miami. Nos tempos em que freqüentava hipódromo corria um cavalo chamado Zirbo, filho de Egoísmo em Leréia. É, cavalo faz tantos potros que faz em.

Lembrei de propaganda de bordel. Nem de longe comparável ao que a revista fez com uma famosa atriz. Na seção, ¨eles são como nós¨, a jovem balzaquiana aparecia no calçadão, na Lagoa, dava esmola a uma pedinte com o filho no colo. A famosa estava de chorar na frente do espelho, o cabelo desalinhado, sem maquilagem, a pele desbotada, as pequenas rugas junto aos joelhos evidentes, as roupas pra lá de à vontade, a sandália baixa mostrando os pés e os dedos esparramados ao pisar. Ao lado, em foto de página inteira, bem acabada no photoshop, coisa de reconstituição de filme de ficção científica, um espetáculo. Quando a famosa viu suas imagens deve ter pensado, é muita sacanagem.

Tirar fotos que transformam famosas em dragões parece ser a especialidade dos fotógrafos da revista. Tiradas de cima, de baixo, do ângulo mais inadequado.

A revista, em lugar de montar uma ilha, poderia construir um monumento ao arquiteto e ao decorador que projetam as mansões onde moram as vedetes. Isto porque na última página aparece uma delas, e só aparecem elas, trajada numa deselegância só. Escolha pessoal.

E se você quer saber se eu só olho aspectos pouco alentadores, lhes digo que seria desagradável ver os famosos sempre belos, divertidos e felizes, mundo irreal. A revista entende perfeitamente seus leitores. Querem saber da vida dos mostrados, mas não querem vê-los completamente bem. Pelo menos, não todos.

Certa ocasião, vendo muitos famosos que eu desconhecia, recordei uma manhã fria em Caxias do Sul. Num hotel sem estrelas, poucos, seis a oito, tomávamos café naquele julho distante. Havíamos acordado cedo e as caras amassadas mostravam rostos ainda não adaptados aos primeiros sinais do dia. Na televisão, um futuro candidato a presidente, Ciro Gomes, nada conhecido no sul, fazia, empolgado, um discurso tratando de fáceis soluções para os problemas difíceis do país. O silêncio imperava entre breves ruídos de xícaras e pires. Um hóspede chegou e ficou, por alguns instantes, junto a um pilar que havia no meio sala, ouvia. De repente, com voz alta e firme, questionou:

- Alguém ai sabe me dizer, este é o famoso ...

... quem?