ETERNIZANDO O MOMENTO

No retrato colorido ela me olha sorrindo, o longo cabelo loiro lhe emoldurando o belo e brilhante rosto, os dentes perfeitos se destacando por sua brancura límpida, as sobrancelhas bem delineadas e cuidadas com desvelo encimando aqueles olhinhos marotos que costumavam piscar para mim falando coisas íntimas que seus lábios ardentes e encantadores não ousavam repetir, e o silêncio daquela foto de tantos outroras me remete aos tempos do grande amor que sentimos um pelo outro. Ah esse verbo sentir, que tem a mesma grafia no pretérito e no presente, porque sentimos antes, no passado, anos atrás, e sentimos agora, no presente, tamanha a magnitude dos nossos sentimentos que foram e que são.

E por onde anda esse sorriso lindo e encantador que teve o condão de esquadrinhar a minha alma e ganhar meu coração, que me despertou a ânsia de voltar a sonhar quando as noites haviam se tornado estéreis de sonhos e devaneios, que acordou a utopia de amar e ser amado há tanto entorpecida? Sorriso que se espalhou por todo o meu ser e se imiscuiu até mesmo nos meus mais reconditos pensamentos, vasculhou-me os anelos, reviveu meus ideais e rejuvenesceu meus dias. Ontem como hoje. Tão perene, tão presente (e aqui novamente destaco a riqueza de nossa belo idioma, pois ela e seu sorriso tanto foram um maravilhoso presente quanto estão agora presentes ao meu lado). Esse sorriso está na nossa cama, no nosso quarto, em todos os cômodos da casa, como também impregnado no ar que respiro.

Há eternidade no sorriso dela, pelo menos aos olhos deste poeta que a ama. Pois não é essa eternidade poética o instante em que o amor é vivido, em que a imaginação enaltece o empírico e sombrea a realidade? Ela sorrindo para mim ao murmurar da brisa e pousando para o clic com vistas a perenizar sua alegria dão o mesmo sentido, a mesma proporcionalidade de enlevo e infinito, embora momentâneo. Porque aqui trato de encantamento, de embevecimento, do êxtase arrebatador de que sou tomado ao vê-la sorrindo. E qual o poeta cuja sensibilidade à beleza não se derrama em elogios sonhadores nesses instantes provocadores? Nenhum. Todos, como eu, se apressariam em compor versos, em poetizar, em escrever com o intuito de, talhando a poesia, eternizar o momento.

Natal RN, 17/05/2022

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 17/05/2022
Reeditado em 17/05/2022
Código do texto: T7517940
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