Minha geração

MINHA GERAÇÃO

Jocenir Barbat Mutti

Out/07

No final da década de sessenta, estava eu na Engenharia da UFRGS cursando a cadeira de Cálculo Numérico. Nessa disciplina, aprendíamos a manusear as máquinas de última geração para realizar cálculos matemáticos. Com muito esforço, conseguia girar aquelas manivelas e fazer dobrar um sino interno que indicava o momento de parar. Utilizávamos também, nesses cálculos, uma régua logarítmica, que podia ser guardada no bolso. Era um barato!!!

Apenas um ano depois, uns colegas surgiram com uns cartões perfurados, explicando tratar-se aquilo de dados para abastecer os tais de computadores que estavam chegando, e para ficar. Minha nossa!!! Pensei. Justamente agora que estou craque em tocar aquele sino...

Quarenta anos se passaram, e atualmente temos que substituir os computadores de quatro em quatro anos, período esse suficiente para torná-los completamente lentos, sem recursos e ultrapassados.

Quanto ao celular, sequer precisamos mais compra-lo, pois anualmente nossa provedora nos presenteia com um novo exemplar atualizado, acompanhado de manual escrito em chinês. E lá vamos nós tentar assimilar o novo produto. Logicamente, não conseguimos. Sobra para os filhos, que afirmam ser “barbada”.”Vai apertando os botões aí que tudo se resolve “- dizem, com claro sinal de deboche.

O maior problema que vejo nesse tal de celular é que ele tem um painel ( display, para os mais entendidos ) todo preto, que só pode ter sido projetado assim para dificultar a visão das pessoas, suponho eu. Se as teclas eu já não enxergo direito, imaginem os três dígitos que estão nelas. E para complicar mais ainda, meus amigos seguidamente trocam os números dos seus celulares e minha agenda, preenchida com muito custo, vai pro brejo.

E não pára por aí, comprei uma moderna máquina fotográfica, com uma imagem espetacular, e então fui lá no Hotel Holliday Inn fazer um treinamento grátis para aprender a manuseá-la. As instruções acho que foram previstas para quem tinha pequenas dúvidas avançadas. Me senti um burro. Mas por sorte sei que Deus assim não me fez... Estava lá o pessoal da geração abaixo da minha fazendo não sei o que, talvez demonstrando o quanto sabiam.

Aproveito o desabafo para reclamar mais: a proliferação de senhas é uma praga. O objetivo é nobre. Afinal de contas, sempre é bom proteger nosso dinheiro e nossa segurança. O problema não é apenas a quantidade, mas a impossibilidade de anotar tudo num papel, ou seja, tem que guardar tudo na velha cachola. Quem trabalha com três bancos, como eu, precisa guardar pelo menos umas nove senhas. E engana-se quem pensa que podemos usar aqueles números fáceis que gostaríamos (data do aniversário, ano do nascimento, etc..), o banco rejeita prontamente, sob alegação de serem fáceis demais (“ mas foi justamente por isso que as escolhi! “).Ora, o fato é que até para ser mal atendido por uma operadora da televisão a cabo necessitamos também de outra senha.

A geração posterior a nossa nem pensa em entrar nessa dança, sobrou mesmo para a nossa assimilar sem treinamento a desenfreada corrida pela modernidade da informática. O treinamento a que me refiro é dominar a linguagem de interação com as máquinas. Mas para tanto nada melhor do que começar desde pequeno...

Voltando aos computadores, não há dúvidas de que é uma comodidade, sem ir ao banco, programar os pagamentos de todas as tuas despesas. Podemos trabalhar em casa usando a internet. Podemos enviar orçamentos com fotos, desenhos e principalmente receber os pedidos dos clientes. Trabalhar com o MSN ligado também é um ganho de qualidade na comunicação. Outro dia, uns bandidos me telefonaram, afirmando que estavam em poder de meu filho e que iriam apagá-lo se eu não entregasse o dinheiro. A armadilha foi desarmada imediatamente, pois, ao mesmo tempo em que eu falava com os bandidos me comuniquei via MSN com meu filho.

Um dia essa situação vai inverter e o computador será meu escravo. Vou comprar um de última geração mesmo, no qual simplesmente apertarei um botão e pronto, ele sai funcionado e já vai me perguntando :

- O que o senhor deseja, seu Jocenir ? Notei que o chefe hoje não fez a barba.

Eu responderei, oralmente :

- Não enche meu saco! Vai pagar a luz, o telefone e os impostos deste mês.

- Só isso, seu Jocenir ?

- Não, agora eu vou sair! Desliga todas as luzes da casa, liga o alarme e o sistema de aquecimento para eu tomar meu banho na volta. E antes que eu me esqueça, vai-te à merda.