O batráquio e o mensageiro

No mesmo dia e horário adentraram no luxuoso hotel de uma estância de águas, o senhor Teófilo com esposa e filha. E um rapaz mulato.

O senhor Teófilo e família foram recebidos no ante-sala da recepção enquanto o mulato entrou por uma porta lateral, contratado como ajudante de copa. Teófilo será nosso personagem principal enquanto o ajudante de copeiro irá desaparecer dessa crônica a partir de agora.

Teófilo era advogado por profissão. Ele estava ali com a família, premiado por ter levado com êxito uma pequena fortuna a Luiz Carlos Prestes em Buenos Aires, a mando de seu superior o ministro Osvaldo Aranha.

O dinheiro estava destinado para que Prestes organizasse um levante popular em favor de Getúlio Vargas que viria ser derrotado nas eleições presidências por Epitácio Pessoa, em 1930.

Teófilo conhecera Prestes em 1924 quando a coluna Prestes se juntou à Coluna Miguel Costa. Esse contingente era formado por revolucionários da revolução tenentista fracassada, também conhecida como a revolução dos Dezoito do Forte.

Há relatos de que, enquanto esperavam por armas vindas de Curitiba, alguns dos revolucionários da Coluna Miguel Costa/Prestes cometeram atrocidades, incluindo estupros nas mulheres indígenas na frente dos familiares.

Teófilo conseguiu por meio de seus laços familiares ser anistiado e foi trabalhar no gabinete do Dr. Osvaldo Aranha.

Voltando ao tempo em que Teófilo iria desfrutar uma semana nessa estância balneária, está ele e a família, acomodados numa mesa ao lado de uma ampla janela que descortina as diversas piscinas. Era hora do almoço.

Teófilo pede dois martini-secos e uma soda pra filha. A esposa diz que não gosta de azeitonas. Ele diz que as adora principalmente com o martini.

Ele e a esposa se deliciaram com Poisson au poivre e a menina com macarronada.

Aproveitaram o morno sol e se banharam nas piscinas de águas medicinais. Por volta das sete da noite se dirigiram ao restaurante para jantarem. Os três exibiam um saudável e leve bronzeamento de pele.

Teófilo pediu os mesmos martini-secos e não esperou que a esposa lhe oferecesse a azeitona. Mastigou as duas de uma vez só e segundos depois estava estrebuchando e vomitando. Por fim caiu morto.

O detetive do hotel começou uma investigação antes dos policiais chegarem. Ele verificou que no meio do vomito havia pedaços de azeitona com uma substancia estranha. Correu e agarrou pelo colarinho o garçom do bar já o acusando de assassinato.

O garçom disse que não era ele quem prepara as azeitonas e sim o ajudante de copeiro. Saíram a caça do ajudante. Nada se sabia sobre ele exceto o nome. Como tinha chegado naquele dia e estava um período de experiência, não foi recolhida mais informações. No armário dele encontraram um pequeno frasco, um vidro com azeitonas e um aparelho de se retirar caroço de azeitona.

Semanas depois, ao analisarem o conteúdo do pequeno frasco foi encontrada a substancia batrachotoxina, veneno letal produzido por um sapo das florestas sul-americanas.

Fica aqui duas questões éticas. Primeira: Quando o individuo tem o direito de matar outro?

Segunda: É a sociedade responsável pelo crime individual?