INDIGESTÃO

O confrade do Recanto das Letras, Joel Gomes Teixeira, publicou em sua página do face book um problema provocado por bananas mais água gelada que os antigos consideravam, com razão, um desastre no trato digestório.

Por ser daqueles que têm “o olho maior do que a barriga” já me aconteceram casos que hoje são motivo de riso, mas que na ocasião parecia que seriam o meu fim.

Certa vez, ainda criança, na casa de uma amiga de minha mãe, eu comi tanto e tão sofregamente o doce de banana em calda, daqueles de rodinha vermelho brilhante, que terminei por vomitar no tapete do chão da sala de visitas da referida senhora. Sem consequências, ouvi as recomendações de praxe, mas nem as levei em consideração...

Na semana santa, final dos anos 60, levávamos no Teatro de Santa Isabel, a peça Milagres de Jesus (eu interpretava Poncio Pilatos) e Arlindo Silva, autor/diretor da peça, convidou-nos, três ou quatro atores, para almoçarmos em sua casa. Era a sexta-feira da paixão, com três apresentações (manhã, tarde e noite). A mãe de Arlindo, uma senhora de idade já bem avançada, mas ainda exímia no preparo das iguarias tradicionais da semana santa em Pernambuco, auxiliada pela empregada doméstica, cozinhou uma quantidade que daria perfeitamente para matar a fome das mais de sessenta pessoas do elenco. Feijão de coco, sururu de capote, arroz branco, quibebe de jerimum, bredo de coco, peixe escabeche, peixe de coco com um fio de azeite de dendê, moqueca de siri mole, pirão mexido, fritada de marisco, refresco de cajá durante o almoço e licor de pitanga no final...

Durante o espetáculo da tarde eu fiquei deitado no camarim enquanto o mundo rodava diante dos meus olhos. Pouco antes do espetáculo da noite, a natureza agiu e eu vomitei inúmeras vezes. Nem fui para a sala de maquiagem e antes da cortina abrir para a nossa cena, avisei a Anás e a Caifás que, se eu saísse do palco era para vomitar, que eles improvisassem uma discussão qualquer que eu voltaria, nem que fosse carregado por Cláudia Prócula. Sem vômito, deu para concluir a cena e voltar para “acabar de morrer” em casa...

O mais recente episódio, aconteceu durante viagem por Minas Gerais em 2013. Uma semana mandando ver nas iguarias tradicionais nas três refeições.

Muitos, muitos, muitos e variados doces de abóbora, abacaxi, laranja, batata, generosas porções de queijos canastra, curado, meia cura, casco de cavalo, queijo de trança, ora-pro-nobis com lombo de porco, pequi, galinhada, feijão e arroz de tropeiro, carne de lata, costelinha, linguiças com e sem pimenta, licores, cachaças, pão de queijo, pastel e outras tantas que resultaram em doze horas numa cadeira do hospital de emergência de Belo Horizonte tomando soro fisiológico endovenoso e na promessa (a mim mesmo) de que este episódio foi o último, porque eu já tenho idade bastante para ter vergonha na cara...