A igreja e o homem

Ele morava só no seu apartamento. E ao lado de seu prédio existia o seu inimigo mortal. Uma igreja evangélica. Já tinha se perdido em contas de quantas vezes chamara a polícia para interromper a algazarra dos pulos e gritos do pastor que eram amplificados potentemente por um sistema de microfones e alcançavam seu apartamento perfeitamente. Já conhecia os discursos do homem de cor. Podia ouví-los todos os dias a noite antes de dormir. O som chegava diretamente ao seu ouvido, nítido e claro.

Tinha chegado a um momento da sua vida em que já sentia pena do diabo, de tanto o coitado ser ofendido e enxotado todos os dias, pela voz do pastor tão determinado em acabar com seu legado de tentações. O que tinha o tinhoso feito de tão mal na vida do sujeito?

O importante é que os planos para a tarde já estavam prontos. Estava tudo certo. Tudo sistemáticamente pensado. Conferiu tudo para que nada saísse errado.

As três da tarde, desceu as escadas do prédio e parou em frente a porta da igreja. Jogou a bomba e saiu correndo. Depois parou na padaria da esquina. Comprou quatro pães e um picolé de côco. Enquanto pagava a compra no caixa ainda pode ouvir o barulho da explosão. Saiu da padaria calmamente, entrou no prédio onde morava e foi tomar o seu café, na sua calma e tranquila tarde de domingo.