SEM MERENDA ESCOLAR E COM BULLYING

Não tínhamos merenda escolar na infância, comparecíamos às aulas pela força de vontade de aprender e, lá na frente, após a formatura na faculdade, caso tivéssemos a graça de chegar até este estágio, mudar o cenário de carência tão comum à época em nossa região. A propósito, não poucas vezes chegamos à escola famintos e sem ânimo para suportar a professora carrancuda sempre irritada e ranzinza, que na mão carregava uma imensa régua para castigar os alunos desatentos, rebeldes(raramente havia) e despreparados para entender a verborragia e a complexidade das aulas.

Por outro lado, seja dito com todas as letras coloridas, sempre havia, na hora do recreio, os grupinhos ávidos para descontar nos mais frágeis suas frustrações e ódios, praticando o que naquele tempo ainda não era chamado de bullying. Então, é compreensível, voltar para a escola no dia seguinte, sabendo de antemão que iriam ser incomodadas pelos próprios colegas de aprendizado e infortúnio, não animava essas crianças já tão sobrecarregadas pelo desalento da pobreza e das intempéries da vida. Somente os mais fortes e persistentes continuavam e sobreviviam. Fui um deles, pela graça de Deus 🙏

No entanto, apesar de tudo isso e tanto mais como o calor nas salas cheias, a sede, a falta de banheiro para as necessidades mais comuns etc, eu queria e precisava ter força de vontade para seguir em frente e saltar todos os obstáculos diante de mim. Além de desejar o conhecimento e vencer todos os impasses, logicamente havia os bons momentos pelos quais eu ansiava diariamente, como a hora da leitura. Cada aluno lia um pequeno trecho de algum livro escolhido pelos professores e tinha que saber fazer fazer as pausas das vírgulas, dos pontos e vírgulas, dos pontos de exclamação e de interrogação, dos pontos parágrafos e dos pontos finais. Aprendi muito com essa preciosa prática.

Contudo, e relato com grande alegria aqueles instantes, mais me empolgava quando o lente punha uma folha ilustrada com cenas bucólicas de calendário sobre a lousa(nos chamávamos de quadro negro porque era um grande e retangular quadro preto) e pedia para fazer uma dissertação, criar uma história ou descrever o que a ilustração passasse para sua criatividade literária. Aquilo era mais que mágico para mim, pois ampliei o mundo da imaginação, aprendi muito e desenvolvi a benção que Deus me concedeu de escrever, criar e inventar literatura. Mesmo sem merenda e com bullying.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 09/06/2022
Código do texto: T7533960
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