Das Minhas Lembranças 28

Com a eleição de Dilma em 2010, fiquei tranquilo. Agora sim, pensei, o projeto de um governo popular, de inclusão social se consolidara. Não teria mais volta. A vitória apertada em 2014 contra Aécio Neves, e com as ruas tomadas pela classe média, insufladas pela mídia, com o apoio explicito da FIESP e outros setores empresariais e do sistema financeiro, sinalizavam dias difíceis, como de fato, foram. Nem bem Dilma toma posse, em 2015, o golpe ganha forma. Aécio não reconhece a derrota. Da área vip do estádio, Aécio, Luciano Huck e outras celebridades, gritam palavrões contra a presidenta. Galvão Bueno, abre o microfone e o grito ecoa: Fora Dilma, Dilma, vai tomar no c. 2014, ano da copa e o Brasil leva o famoso 7x1 da Alemanha. Em seu primeiro discurso após a derrota, Aécio, em tom de fúria golpista , diz: "Vamos obstruir todos os trabalhos até o país quebrar e a presidente Dilma ficar incapacitada de governar, sem apoio parlamentar, aí reergueremos o país que nós queremos..." Assim, "com o SUPREMO, com tudo", como disse Romero Jucá (MDB), Eduardo Cunha coloca o impeachment em votação. É o ano de 2016. Como previra Aécio, Dilma não conseguiu governar em 2015.

Acompanhei tudo pela TV e pela internet. A consciência política me tirou das redes sociais e voltei às ruas de São João del Rei e de Belo Horizonte. Houve resistência. As ruas foram tomadas pelos vermelhos, em contraposição aos verde-amarelos. Em São João, participei de duas manifestações, com passeata. Fui a uma em Belo Horizonte, com mais de cem mil. Mas o golpe, planejado em detalhes, se consumou, com os deputados federais comemorando de forma grosseira. Bolsonaro, em seu voto, homenageia a memória do torturador Brilhante Ustra.

Temer-MDB- vice de Dilma toma posse e dá início ao desmonte das conquistas sociais, ambientais e trabalhistas dos governos Lula e Dilma, com o programa Ponte Para o Futuro, que dá título ao meu poema:

ponte para o futuro

bom para quem fatura

nas costas dos trabalhadores...

não quero esta ponte

pois ela vem da fonte

de ladrões e traidores...

na ponta desta ponte

só há quem apronte

efeitos devastadores...

esta ponte de armadilhas

atravessam as quadrilhas

e a turba de impostores...

nesta ponte não atravesso

pois sempre fui avesso

a corruptos e corruptores...

Enquanto isso, dois personagens entrariam para História: O Juiz Sérgio Moro e Deltan Dallagnol. O que eles queriam, com o discurso anticorrupção e Lava Jato, irei relembrar no próximo capítulo.