Linha do tempo

Dizem que olhar vídeos de bichinhos nas redes sociais é caminho sem volta, basta começar que o aplicativo passa a oferecer catálogo inesgotável.

No Facebook, por exemplo, gatinhos, cães e outros miudinhos salvos de fendas, bueiros, pântanos, lagos congelados... São tantos emoticons de corações, abraços sentidos, polegares azuis que com o tempo aprendemos a olhar esses sinais e cair fora quando há as caretinhas de choro sinalizando que os pets se deram mal.

Na fase intermediária são mostrados peçonhentos entalados e salvos com ajuda de homens valentes, pets salvos desses rastejantes, veados e vacas enganchados em cercas, árvores, cordas e cordões. Depois vem a fase de luta entre os malvadões: jacaré e cobra. E agora, para quem eu torço?

Ah, quase ia esquecendo dos pandas, gorilas e outros de cativeiros e suas proezas sexuais.

Caso o novo voyeur de bichinhos comece a fugir de tais vídeos porque os emoticons do chorinho já não são mostrados (em vez disso só mostram os polegares azuis), vem prato mais exótico para os agora exóticos observadores de desgracência. São os vídeos de alguém quebrando tudo em loja de celular, câmera de segurança que gravou tentativa de estupro em loja de lingerie, morador de rua que virou galã por abuso, meninos de 10, 11 e 13 anos que mataram outro de 5 anos no Pará, noutra cidade (a essa altura nem importa mais o lugar) criança de 11 anos matou mãe na cama, irmão de 5 anos que tentou evitar o crime, feriu o pai que chegou da farmácia e que havia retirado do pequeno assassino o celular como castigo pelas notas baixas na escola. Três vidas por um celular.

A tudo isso alia-se a visualização de comentários, onde o que fala é sempre o gênio e o que retruca é o idiota que precisa de interpretação de texto e assim sucessivamente.

Em duas semanas desisti dos vídeos de bichinhos. Voltei à leitura de livros cujas cenas, personagens e ambientes são dirigidas pela imaginação, que pega leve, leve. É que a minha linha do tempo já está mais para sistema de calma do que para sistema nervoso.

 

 

 

meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 10/06/2022
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