A Delicadeza da Nobre - Arte

O regulamento de Boxe é do árbitro, pertence a ele e deve ser aplicado por ele, durante as disputas. Toda a preocupação nesse quesito dirige-se ao corpo de arbitragem. Ao atleta cabem o bom treinamento, a disciplina, lutar de forma limpa e obter a vitória. Nesses últimos dias, me desliguei dessa instituição que tanto amo e dedico afeto e apreço. Um balanço natural, movimento que a vida faz e te leva pra cá e pra lá. E eu não teimo.

Rememorei com carinho algumas situações de ringue e uma das mazelas mais ingratas é o golpe - baixo. A gente sente na pele essa infração. A questão é que a aplicação do regulamento para a proteção do atleta atingido pelo golpe irregular, visando à sua integridade física (aqui a ambiguidade é proposital, premeditada e acidental), leva a uma inversão de valores por quem assiste à luta e acompanha todos os procedimentos para a recuperação do atleta ofendido, já que é pra ele dirigida a contagem protetora, enquanto a maioria pensa: desclassifica logo aquele trouxa! A sede de fogueira e pimenta nos olhos dos outros..., conhecemos bem essa ladainha.

Mais delicada ainda se torna a situação, ocorrida em lutas femininas. Aconteceu comigo..., quer dizer, eu era esse ser neutro e impassível, no momento em que duas semideusas se confrontavam. Percebam, eu sou fator humano nessa relação da história. De repente, “BAM”. Golpe - baixo? Não pode ser, me nego a crer... tensão no ar, só nós três percebemos uma imperceptível suspensão das ações e uma leve expressão de desconforto no rosto da atleta. Tá tudo bem, né? Tá tudo bem, tá tudo bem..., por respeito à sua construção social e categoria não vou abrir a contagem, por benefício da dúvida, e é boxe que segue. "Boxe!" Nem precisava dizer, precisava me entregar?

A luta prosseguiu de forma magistral. Nada, nada, havia acontecido. As duas atletas continuaram se entregando arduamente ao combate, por algo que sublima a existência: ser melhor! Não é a melhora mesquinha, sobre a derrota, mas sim a obtenção da Vitória que laureia e eleva sobre as conquistas singulares, em cima do tablado. As gregas entendiam muito bem disso. É disso que se trata. Na verdade, eu que não consegui superar. Doeu? É lógico que doeu, Jubileu, uma região tão tão e sensível, em todo o lugar dói, quanto mais lá... deve ter pegado no clitóris, né possível e a gente que lute pra achar a bendita agulha num palheiro. Será que se escondem quando a gente quer chegar lá? – pra gente ficar sem pai nem mãe no salão - “Tipo assim num baião do Gonzaga”? A adversária “miserárvi” achou em um único toque, essa sabe das coisas, foi humilhante. Também não é pra menos, foi como explodir o local com uma dinamite, deve ter mapeado em chapa todo o DNA quântico da menina (não só não anotou a placa, mas o chassi...) . Você prova da Existência, porém o mistério continua insondável. Obrigado por me ensinar a pulsão de vida e de morte do Dr. Freud, em um breve golpe de vista, a formulação da teoria levou bem mais tempo, com certeza. Ela deveria ter usado o dim mak, o letal dim mak (Toque da Morte, pra quem não assistiu ao sensacional O Grande Dragão Branco, um misto cinematográfico de sacanagem com porradaria, coisas que, só da última, acontecem em cima do ringue. A primeira não prima de fantasia, esse prisma ideal).

E se eu tivesse aberto a contagem? Namorado boxeador na plateia, torcendo como um louco. Se eu abro a contagem, teria de ouvir: “Tá maluuuuco!!! Eu já fui aí e não tem nada, não, seu árbitro brocha - ou qualquer rima a fim desse termo -, seu bosta! Não ia ficar por menos e eu posso passar sem essa, sem esse lenga-lenga. A luta terminou. Viva a vencedora. Sorte melhor para a que sofreu o golpe - baixo (mea maxima culpa), já não me lembro direito com quem ficou a Vitória.

Eu deveria ter aberto aquela contagem, o resto põe na conta...

Nyears
Enviado por Nyears em 14/06/2022
Reeditado em 17/06/2022
Código do texto: T7537718
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