Se4de de Amores

Sede de amores

Ela tinha sede. Não desse tipo que se resolve com um copo d'água. Não! A sua sede era na alma. Queria experimentar todos os gostos, todos os sabores e todos os amores. Queria todas as horas em um só segundo. Saber de tudo, experimentar tudo, conhecer todos os lugares. Queria não, precisava. Amava e desamava com a mesma intensidade. Tinha sempre muita dificuldade de fazer escolhas, já que não se permitia abdicar de nada. Sentia pressa de viver e via tudo passando depressa demais. A ressaca era sua companheira. Física e moral. Mas gostava de sentir isso. Gostava do desafio, do improvável, do perigoso e do proibido. Não tinha tempo para o morno. Ou congelava ou pegava fogo. Sempre apostava tudo. Como num jogo de Poker. Adorava o risco. Perder e ganhar fazia parte da diversão. Nem sempre era a primeira a chegar, mas sempre a última a sair. Andava em bando. Andava sozinha. Acordava com o Sol, dormia na chuva. Chorava escondida, debaixo do chuveiro para nem ela mesma ver suas lágrimas caindo. Não admitia sofrimento. Quem a encontrava via sempre um sorriso. Só o seu travesseiro sabia a verdade. Muitas vezes comprou passagens só de ida. Muitas vezes amou profundamente por uma só noite. Muitas vezes bebeu além da conta. Sentia saudades, amor e ódio em uma fração de segundo. E depois passava. E depois voltava. Tudo ao mesmo tempo. Todos os sentimentos guardados dentro de uma garrafa. E de repente ela virava. Tudo de uma só vez, como num shot de tequila. Muitas vezes foi apontada, julgada ou mal compreendida. E tanta gente pode dizer quase tudo a seu respeito, menos que ela não tenha vivido. Eu, que tive a sorte de conhecê-la, atesto que ela sempre foi muito especial. Talvez porque tenha entendido o sentido desta vida antes de todos nós.

1000 tons

Guaxupé, 16/04/19.

Milton Furquim
Enviado por Milton Furquim em 19/06/2022
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