A CASA DOS FUNDOS

Os imensos metros quadrados que compunham o casarão pareciam aumentar face a solidão em que se encontrava Maria Clara, com a ausência do marido morto já a alguns anos e dos filhos casados e encaminhados, cada um para seu lado.

A contrução do sobrado a décadas passadas seria então o local onde criariam os três filhos, dois rapazes e uma moça e onde viveriam felizes para sempre João Luiz e Maria Clara.

Nos anos seguintes o casal resolvendo aproveitar melhor a propriedade decide construir nos fundos do terreno um pequeno salão com demais dependências.

O tempo passou...muito tempo passou e hoje Maria Clara analisando a vida de seus filhos, refletindo e pensando no futuro de todos, decide convidar seu primogênito Artur,para junto com a esposa Estela e as netas Mariana e Marina, virem morar no sobrado, enquanto ela passaria residir nas dependências anexas e no final do terreno.

O assunto movimentou e chamou a atenção de toda a família, que reuniu-se para discutir a relevância de tal decisão.

Maria Clara alega estar em um estágio de vida, onde seus valores e necessidades vão muito além do excesso de espaço físico, onde a necessidade de maior atenção se anuncia num futuro próximo.

A matriarca revela ainda ver nessa mudança a oportunidade de partilhar conhecimentos para os seus e de tranquiliza-los quanto ao seu estado e segurança.

Maria Clara observa ainda que a manutenção, conservação e modernização do casarão, ficaria por conta dos novos moradores, enquanto a ela caberia o deleite do envolvimento com atividades prazerosas até então adiadas, quando não evitadas.

O filho Arthur, como seus irmãos, estranhou a decisão da mãe, mulher bem resolvida e desde a viuvez sempre muito independente, tendo chegado aos sessenta anos com saúde impecável.

A vida para Arthur não é fácil e ele não esconde a alegria que a proposta da mãe lhe causa. Lembra da dificuldade em colocar o longo financiamento do apartamento em dia; das despesas com a educação das filhas; do tratamento médico da esposa, desempregada e de saúde frágil. O oferecimento da mãe permite ao bancário Artur, a solução para o emaranhado financeiro no qual se encontra.

Os demais irmãos entendem a escolha da mãe e sentem-se tranquilizados por perceberem o acolhimento que a mãe terá junto dos familiares.

A reunião encerra. Todos retornam aos seus lares . Maria Clara recolhe-se aos seus aposentos refletindo sobre essa questão instigante, que sabe muitos já viveram, que muitos estão vivendo, e quem sabe, muitos de nós vivermos!!!

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 19/06/2022
Reeditado em 27/02/2023
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