O que me RECOMEÇA.

Há tempos que me coloquei no piloto automático. Estava tudo tão igual que eu não sentia meus gostos, eu não vivia meus jeitos, eu ensaiava meus passos de dias iguais.

Afundei de maneira tão lenta, não vi o tempo passar, mas quando a água sobe demais todo mundo se dá conta de que não quer afundar.

É estranho porque tudo que é vagaroso não assusta, a suavidade é o abraço que parece afago, e no entanto sufoca. Observe as coisas que te dragaram um dia, foi tudo suave, nada foi abrupto. Quando é abrupto, nosso corpo se defende, joga a adrenalina e ficamos em ponto de alerta. Gritamos. Fugimos. Corremos. Saímos. Mas o que é lento, gradual, suave...envolve. ... só nos envolve.

Eu vi meu corpo flutuar num desses loopings claros de imagens oníricas absurdas. Imagens oníricas tem licença para serem absurdas.

Algo sublimou minha capacidade de amar, eu fui tão longe que me perdi de vista, e sem meus olhos fitos em mim fui me afastando, fui me "des-sendo" (não sendo eu).

Então eu caí, do cavalo, da torre, da prateleira, da porta aberta do elevador, do último degrau da escada. E queda é sempre abrupto. Se existisse um dicionário deveras leal, vida seria sinônimo de queda, ngm consegue viver senão do constante movimento de se levantar, e só levanta quem cai. As quedas são verdadeiros anúncios escatológicos, nos colocam em face daquilo que é de fato essencial. Meu scaton veio...eu entendi o que vai de fato conseguir fazer eu me reconectar comigo mesma. Eu não sou SUAVE. EU SOU ABRUPTA. EU SOU DISPARO CERTEIRO. ACONTECIMENTO ESBAFORIDO. TAPA DESFERIDO. CHORO OFEGANTE. SOU CURVA SINUOSA E PALAVRA ERRANTE. EU SOU UM PONTO DE ALERTA.

Eu consegui voltar no tempo. Eu penso que agora sei o que me RECOMEÇA.