Simpatias de São João

Corriam os anos sessenta. Já na cidade, fiz amizade com todo pessoal do quarteirão da rua São Salvador: Izabel, Amelia, filhas do Senhor Ernesto e D. Sina, Pelayo, Jacintha e Esperança, filhos do Senhor Pelayo e D. Esperança, imigrantes da Espanha. Ali me divertia, aprendia a falar a língua, cantava Sarita Montiel, Joselito, Marisol e tantos outros cantores espanhóis; dançava flamenco, tocava castanholas, brincava de teatro, circo, casinha, mariquitas- bonequinhas de papel para vestir - comia churros, mantecais, e outros quitutes da cozinha espanhola. Havia também a Norma, o Aldo, Sergio, filhos da D Carmem e do Sr Antonio, também imigrantes vindos da espanha. Nas noites de São João, fazíamos nossa festa junina, na calçada mesmo, ou na rua, com direito a fogueiras, roda de violão, quentão, pé de moleque, doce de abóbora,batata doce assada na fogueira, traques, chuvas de lágrimas, buscapés, rojões, e, para o coração: nossas simpatias. Meninas ainda, cada uma tinha seu flerte. Seu pretendente, seu romance imaginário. Eles nem sabiam, mas nós os namorávamos em nossas imaginações. Doce e puro namoro. E queríamos saber se eles seriam um dia nossos parceiros , nossos namorados de verdade, pra entrar conosco na Igreja e nos casarmos. De véu e grinalda. Não víamos a hora de chegar a noite de São João para fazermos a simpatia da faca. Ensinamentos da minha mãe, D. Chiquita. Eu conto: era preciso introduzir uma faca no pé de babaneira à meia noite da noite de São João. Ela permaneceria ali a noite toda. Só a tiraríamos no dia seguinte, antes do sol nascer, pra ver o nome do dito cujo. Nem dormíamos à noite. Tamanha era a ansiedade. A torcida. E acontecia. De verdade. Eu cheguei a ver escrito Luis Antonio em minha faca, meu grande amor do momento . Mas não me casei com ele. Na faca dele veio escrito outro nome: Pedro ...

Benvinda Palma

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 25/06/2022
Código do texto: T7545360
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