Eu começo a me ver comigo.

Seis anos é muito ou pouco tempo?

De 32 começo a entender como pouco, como muito pouco.

Seis anos, passados seis meses é coisa recente, mas começo a perceber a casca fina da ferida cobrindo, timidamente, meu ferimento. Ferida, umas das acepções do amor, o Eros. Penso hoje que o amor que vira ódio, a que se referia Maquiavel, era o amor Eros, ao devanear isso tenho certeza que não foi esse o amor que dei por 6 anos.

Volto a saber passar tempo comigo. Eu antes ficava cravada em mim por horas a fio sem me entendiar, perdi a mão. Eu antes cantava para mim as canções que só eu sabia que gostava de escutar, por um tempo me perdi nas canções suas, suas músicas não falam de mim para mim. Eu antes me sabia onde ir, como chegar, quando ir, me demorar, me sorrir. Eu antes sabia me chorar sem me diminuir.

Eu antes sabia dos meus medos, dos meus monstros, eu sabia dos meus erros. Sabia que eles nunca foram maiores que eu. Eu antes sabia que eu era enorme e por isso não me cabia em ninguém, em nada, lugar nenhum. Eu antes era destemida, em minha juventude convencida eu nunca estive errada. Eu não parava para a chuva, redemoinho ou trovoada. Andava com medo, mas nada me parava.

Eu não sou mais antes, agora eu sou depois.

Todo dia um depois de mim me torna EU que posso ser. Meu antes era lindo, mas meu depois me ensinou a viver. Meu depois me espreita ali logo em frente, me observa, me aplaude, me analtece porque eu começo (agora) a me ver comigo.

Évora Solitu
Enviado por Évora Solitu em 26/06/2022
Código do texto: T7546397
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