Cuidados salvadores

Não é à toa que a Bíblia é chamada o livro dos livros. Talvez esse título se deva à conexão que é possível fazer com os mais diversos fatos, encontrando nela embasamento para quase tudo. Claro que interpretações distorcidas acontecem, com alguns tirando proveito disso, o que não tira o mérito de sua leitura, mesmo para os que cruzam os dedos só de pensar nisso.

Acontecimentos recentes me remeteram a uma carta de Paulo, aos Coríntios, que versa sobre o corpo humano. Diz lá: “O corpo não é feito de um só membro, mas de muitos... Os membros do corpo que parecem mais fracos são indispensáveis e os que pensamos serem menos honrosos, tratamos com especial honra... Quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele”. Dois desses membros foram evidenciados, um mais que o outro, um, nas redes sociais e outro, que mereceu artigo num jornal. Pra não fugir da Bíblia, começo pelo último citado, no caso o coração.

O texto aparece em O Globo, na coluna Receita de Médico, intitulado Minutos que podem salvar vidas. Fala do infarto agudo do miocárdio, que é quando, repentinamente, o sangue deixa de irrigar o coração, por conta de alguma obstrução, e o quanto antes o socorro apropriado ocorrer, melhores serão os resultados para a retomada da vida com qualidade. Trata-se de uma doença reconhecida hoje pela medicina como “tempo-sensível” ou “tempo-dependente”, ou seja, quanto mais rápido buscar o socorro adequado, mais chance de vida para o paciente.

Enfatiza o escrito os sinais de alerta para a busca rápida e eficiente por assistência médica, que TODOS deveriam ter conhecimento. Dor no peito, especialmente do lado esquerdo do tórax, mal estar com suor excessivo, palpitações, náuseas e fadiga após exercício físico, falta de ar, dor abdominal, sensação de tontura ou desmaio. É só o coração, mas se ele falhar, todo o corpo vai com ele, do jeito que disse Paulo.

O segundo membro ganhou manchete e visibilidade a partir da postagem de uma fisioterapeuta pélvica nas redes sociais, com mais de 11 milhões de visualizações, orientando sobre a limpeza dessa parte. Aqui os cuidados variam desde o odor a preocupações ainda mais sérias com infecções, cabendo às mulheres o cuidado maior por conta da própria anatomia feminina.

E o que tem uma coisa a ver com a outra? Certamente se essas simples noções de identificação de um infarto agudo fossem disseminadas, para que as pessoas pudessem, de imediato, ir em busca de socorro, agindo da forma certa enquanto essa ajuda não chega, muitas vidas poderiam ser salvas. Nem todos têm a sorte de sofrer um infarto com uma médica ou enfermeira por perto, para prestar o devido auxílio. Por que então não dedicar uma meia hora (e quando digo meia hora não é força de expressão) para que profissionais da saúde (quem sabe com uma encenação teatral que atrairia mais a atenção?) levarem à sala de aula essa informação aos alunos?

Da mesma forma que as noções de higiene (extensivas aos demais membros) mostradas pela fisioterapeuta podem ter mudado muitos hábitos na limpeza de um membro desprezado do corpo, mas que, como disse Paulo, não é menos honroso que os outros pois, se ele falhar, todo o corpo vai em derrocada. Está escrito!