Uai Zé, ocê num pricisava ter feito isso ué!

Uai Zé, ocê num pricisava ter feito isso ué!

Este texto foi redigido em homenagem ao colega José Theodoro quando exercia a magistratura na Comarca de Varginha. Ele faleceu com 34 anos na Comarca de Carmo de Minas fazendo dois meses.

RESPOSTA PRO ZÉ. Quando eu exercia a Magistratura na Comarca de Guaranésia, numa ação – embargos à execução, o advogado do Banco produziu uma defesa, daquelas raras de se ver, com tanta propriedade e conhecimento técnico-científico em Direito que, por tanto me impressionar, por ocasião da sentença, fui pródigo em tecer-lhe elogios, muito embora a sentença tenha sido desfavorável ao seu cliente – Banco, isto considerando meu posicionamento em relação à matéria enfocada nos autos, por óbvio contrário ao por ele defendido. Para minha grata surpresa, passados mais ou menos 5 anos recebi um e mail do advogado dizendo-me que teria passado no concurso para Magistratura em Minas e que tem até hoje guardada aquela sentença em que eu o elogiei, e que aquele elogio foi o incentivo para prestar o concurso para Juiz. Hoje o meu colega José Fernando é Juiz na Comarca de Varginha. Então respondi-lhe em caipires como segue:"Resposta prô Zé"Ô Zé, dexa eu ti contá uma coisa homi de Deus, mais im ofi, im segredu, aproveitanu u ganchu. Antis di sê juiz eu torcia o nariiz prá treis otoridadis, quais sejam: pulícia, promotô i juiz, issu purque aqueli povu, si Deus descessi na terra eis mandava prendê na horinha, i ocê sabi Zé qui continua a mema coisa? Num mudô muitu não sô. É claru qui tem exceções na quar eu mi incluo. Conheçu tamém promotô e pulícia qui si enquadra nas exceções. Entonce Zé, nunca dexe essa porra – juiziti, subi na sua cabeça qui daí vai sê um infernu na sua vida e na dos 'súditos'. Sabi Zé, eu nunca isqueci minhas origens, di tê nascidu na roça, pisadu im bosta di vaca, tê tiradu leiti, pisadu discarçu nu orvaiu pq num tinha nem uma alpargata prá pô no pé, de tê ingraxadu sapatu (aqui tem uma passagi interessanti, um dia ti contu), tê vendidu sorveti na rua, tê sidu professô – i dus bão, de escola pública, barconista, etc. Cansei di vendê pinga, aguentá beudu e escuita nerson gonçarves, mirtinho rodriguis, miguel acevis mejia, vicenti celestino, angela maria.Sabi homi, saí da roça mais a roça num saiu di mim não, qui bão, porissu qui mi sintu um juiz caipira, intão num seje um juiz de gabineti não, nunca. Procuri conhecê seus jurisdicionadus oianu zóiu nu zóiu, cumprimentanu eis nas ruas, indu nus butecus, numa pastelaria, sorveteria, quitanda, dexa us pobri cidadão aproximá docê e trocá uns dedu de prosa, num faça comu a maioria qui, para o pobri du cidadão conhecê u juiz ou tem qui sê intimadu prá ir depô no fóru, ou citadu, ou intão raramenti numa solenidadi. Nossa aqueli qui é u Juiz? Carrancudo. Brabu. Aquela qui é a Juíza? Puta qui pariu, nossa qui juizinha bunitinha e gostosinha. Num dexa só us granfinu conhecê ocê não. Us granfinu só servi prá paparicá. Num servi prá muita coisa não. São os granfinus que vão pedi e fazê proposta indecenti. Cara di paus. Us pobris não. Sabi Zé, tô na rua u tempu qui possu. Vô na pastelaria do Zé du Tatu, no butecu do Bilu, no ristoranti Caipira, enfim vô ondi tem genti. Sabi Zé, genti faiz bem prá genti. Cunversu cum todos eis e eis todos cunversa cumigu. Num cunheçu a Comarca pelus processus insebadus, mais sim de cara a cara, zóio nu zóio. Mi vistu comu um du povu, sem empáfia e sem arrogância. E óia qui sô trabaidô, todos sabem viu. Prigunta na Comarca procê vê. Sô, ainda, mão pesada. Independentimenti di tudo e di todos, aquelis qui são mais próximu di mim sabi qui si um dia sentá na caderina da verdadi pur quarqué mutivu, cum eis vô sê mais rigorosu do qui normalmenti eu sô. Sabi Zé aqueli negócio que ensinarum prá nóis na escola em Belozonti di qui num basta sê sério, tem que parecê?, é uma balela, é tudu pataquada. Zé podi tê certeza di uma coisa, a juizada toda são muitu valenti, gritam, humiliam, apontam u dedu im risti, intimida u pobri coitadu do preto, do pobri, da puta, intimida u advogadu, só quandu ta cá capa preta nas costas, purque sem ela, vixxxxxxxxxxxiiiiiiiii. Intão Zé, trati bem as pessoas qui ocê vai iscuitá, trati bem u advogadu, principalmenti a advogada, oie na cara deis e da parti, da cara da tistimunha, dê boas vindas, quebri u gelu, dexe eis à vontadi, prigunta prele prá qui time eli torci, mais adianti qui se fô pru coríntias é um crime hediondu, etc. Intão eu dissi issu tudu prá dizê ocê qui quandu estivê cum processu i si o trabaiu du advogadu fô bão, assim como fiz cocê, elogie, seja prodigu nus eleogius, issu faiz bem prá quem elogia, intão imagina quem recebi u elogiu? É um incentivu maraviosu. Intão ocê é tistimunha dissu. I sabi Zé, ainda continuo elogianu, imbora sabemus qui é muitu dificiu tê pela frenti um trabaiu dignu di elogiu comu fiz cocê. As veiz nem iscrevê direito eis consegui ué. Elogie sempre. Zéimagina ocê si os nossus deusembargadô, ministrus qui num sei comu virô ministru, descessem de seus pedestais e elogiassem us juízis, advogados, promotas, quando em suas decisões?, inveis de ficá nus sentanu nu colu, puxanu nossas oreias? É Zé, mais eis num nasceru na roça não, ou intão num passaru dificurdadi na vida, num tiverum qui vendê o armoço prá comprá a janta, ou intão, como dizia o não-saudosu Presidenti da República João Figueredu (Polícia): num gostava du povu purque u povu cherava cavalu. Eis num são amigo do Tiziu, do Buiú, do Tião Galinha, do Zé Beiçudu, do Porvinha, do Zé Pastei, do Tonho Linguiça. Zé, eu dissi tudu issu in iofi, im segredu, purqui sinão to fudidu e mar pagu. Zé, qui Deus ti abençoi, ti dê sabedoria (qui ocê já tem) i qui ti dê muita, mais muita pacência e sacu grandi prá infrentá us dissaboris, máguas, aborrecimentus, frustrações, ameaças, incompreensões, deusembargadores, ministrus, escrivães, devogadus, pulicia, CNJ, que vai infrentá inté o fim de sua carrera. Graças a Deus Zé qui tô cheganu nu fim da minha caminhada. Aprendi muitas coisas, não desaprendi não, mais vi cada coisa do arcu da véia. Vixi santa. Tenhu história prá contá prá criançada. Ainda bem qui o povu não sabi comu é issu nus bastidoris; não sabi da guerra de vaidadis. Credu in cruiz, jamais aconselharia um amigu a prestá concursu prá magistratura viu Zé, hoje sê juiz é foda com ph. Foi-se a época du glamour. Bão memo hoje é se promota. Fica cum Deus e num isqueça, se fô o casu elogie, mais elogie memu. Elogie tantu quantu ti elogiei, quem sabi u teu elogiu tamém vai serví di istimulu prá otro profissional tão bão quantu ocê.Abraçu procê zé.Milton Biagioni Furquim - Juiz de Direito

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Milton Biagioni FurquimStatus: on-line

Milton Biagioni Furquim

Juiz Direito Vara Civil Infância e Juventude na TJMG

Publicado • 13 s

Milton Furquim
Enviado por Milton Furquim em 30/06/2022
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