A FEBREDO CABRITO

A FEBRE DO CABRITO - contato@jornalrelevo.com

Enviado em 12-01-2021

Antônio Coletto

Caciróoola!! Chamou a mãe. Onde anda essa menina, perguntava para si mesma. Caciróola, gritou mais duas ou três vezes. Não obteve resposta. Caciróoola, continuou a chamar. Lá vem ela, Lina, disse Teócio, o pai. Que tanta gritaria, mulher! Ah! Cala a boca. – Onde andou menina? Não ouviu te chamar. Ouvi! Tô aqui! Não tô? Onde estava? Com a Bita e o Bitinho. Ele tá doente, com o nariz quente. Acho que é a febre. Tá bom. Deixe que a mãe cuide dele, verberou D. Angelina. Teócio ouviu e ficou preocupado. Foi visitá-los. – Agora trata de ir tomar banho, emendou a mãe. Tá imunda! Vai logo sô. A menina com os dedos polegar e médio arregalou os olhos, ao tempo em que, com o indicador, empurrava para cima o nariz: fez careta, olhou para a mãe e saiu correndo.

Já, com roupa de pós-banho, acercou-se e pediu o jantar. Teócio também sentou à mesa. Comeram, os três, o que sobrou do frango do almoço. Tá bom demais sô!, disse o pai. - Vou ver o Bitinho, disse e saiu a menina. Não antes do cafezinho que mamãe fez pra você e o papai com tanto carinho. Aquele tirado do cocô do mutum? Credo! Num quero mesmo! Mas é o melhor do mundo! Pra mim não, prefiro chocolate, respondeu e saiu. Voltou, logo depois, em lágrimas: O Bitinho tá mal, acho que vai morrer. Deixa que vou ver o que posso fazer. Se passar a noite, se salva, disse a D. Lina, ao retornar. E ela onde está? Não lhe diga nada, interferiu Teócio. Tá fazendo a lição. Depois vai dormir. Dito e feito. Mais tarde, o pai foi dar um beijo de boa noite à filha. Encontrou-a febril. Chamou a mulher. Tem algum antifebril, remédio pra resfriado, em casa? Tem não, foi a resposta. Será que é ela? Sei não. Pode ser. Se for... O cabrito também...

Pega dois dentes de alho, descasca; um limão galego, corta em oito partes e açafrão da terra. Vai ver como a febre baixa. Não tem açafrão, respondeu, - só limão e alho. Deixa comigo. Foi à horta e arrancou um tubérculo e trouxe, descascou-o e o partiu. O conjunto jogou em um litro de água e levou ao fogo: deixou ferver. Depois – quando morno, separou a dose do cabrito e, à menina, quase sem sentidos, abriu-lhe a boca e a fez beber o chá. Ah, pai – que coisa ruim!!!, gritou fazendo cara feia. Você não quis o café! Aquele? cruz credo! Agora que tomou o chá, vai dormir, a dor de cabeça vai passar. Ao cabrito, goela abaixo, o fez engolir bom bocado. Amanhã ambos estarão bem. A menina adormeceu. De hora em hora o pai e a mãe iam à cama de Cacirola verificar seu estado de saúde. De madrugada se olharam e sorriram: a febre cedeu, desapareceu. Você não pôs aquilo no chá, perguntou a mulher? Pros pequerruchos não, só no resto, a gente bebe. ETA home, madrugada de festa, bom demais da conta sô! Sorveram eles o resto e, sob-risos dançaram pela casa. É um santo remédio! E como é santo, completou a mulher.

Amanheceu. Cacirola mal pôs os pés no chão, correu para a cobertura onde dormiam a Bita e o Bitinho. Estavam lá, dispostos, deitados e ruminando. Enquanto a mãe, sonolenta e andando como se pisava em nuvens, preparava a mesa para o café da manhã. O pai, da janela, esfregando os olhos esbugalhados, observava o retorno da filha, feliz e saltitante cantando: eu vou, eu vou, eu vou pra casa eu vou... Sorriu, deu um tapa carinhoso na bunda mulher, balançou a cabeça: é, realmente, um santo remédio.

ANTÔNIO COLETTO
Enviado por ANTÔNIO COLETTO em 02/07/2022
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