MANGA DE VEZ!

Não sobe aí, vamos derrubar com pedradas, somos bons de estilingue.

Eram duas mangas num pé não muito alto, uma verdolenga — de vez — e outra madura, eu queria a de vez para comer com sal e a outra chupar de furo no biquinho. De vez, é uma manga está entre granada e madura, amarelando. Evitei que subíssemos, pois, estava bem no alto, onde os galhos são finos e quebram atoa.

Apostamos, — quem derrubar fica com a que cair.

Deu como eu queria, derrubei a de vez e meu amigo a outra, fomos deliciar, repartimos e ficamos com fiapos nos dentes, mas antes comemos a de vez, com sal, trem mais bão, manga assim.

Coisas de meninos do bem, pois só derrubamos as que comeríamos, as outras esperamos que madurassem, as duas foram poucas, meninos famintos de artes, têm fome. Mas tudo tem seu tempo; a natureza tem seu ritmo e encaixar nele é melhor para tudo e todos.

Naquela noite não tomamos leite com farinha, leite e manga faz mal, dizem, respeitamos.

Ouvimos gritos doídos de porco no vizinho sendo sangrado, corremos para lá. Seu Jorge nos viu e raiou com gente, — já que vieram vão trabalhar, vão buscar mais folhas secas de bananeiras para sapecar.

Desembestados saímos numa corrida disputada e rápida, — quem chegar por último é mulher do sapo - cheguei por último, enrosquei na cerca de arame... dei azar.

Trouxe um feixe grande, ele outro, juntando com a que já tinha deu uma fogueirona.

Logo o cheiro de pele tostada invadiu o terreiro, ficou preto e após raspado meio amarronzado. Onde o toucinho partiu, seu Jorge tirou lascas para se comer enquanto se abria o capado, aproveitamos. Ele tinha bigode, ficou brilhando.

Ele tirou um pedaço do fígado e da capa de costela, e nos pediu para levar para dona Rita, refogar, o que logo fez numa rabinha de cobre no fogo forte do fogão de lenha. Lambuzamo-nos, ajudamos a tudo lavar.

Dona Rita ia fazer umas três latas de "querosene" de carne de lata, ela é caprichosa, as outras partes, salgar. Tinha geladeira não, isso era coisa da cidade, de rico! Separam a suã, para o almoço de domingo, com os netos.

Assim se foi mais um dia na roça do sertão grande, aprendizado que na vida nos fez ser tão grandes

Cesar de Paula
Enviado por Cesar de Paula em 02/07/2022
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