Conversa de meninas

Caminhar, além de bom pra saúde, permite múltiplos prazeres. O da conversa contínua, quando se tem companhia, é um deles. Temas variados, provocadores de risos, reflexões, até mesmo emoções, costumam aparecer nesses papos. Algumas vezes até o silêncio entre um assunto e outro, parecendo um rumino, enquanto não vem outro tema à cabeça, serve como aquecimento para o que vem pela frente.

Em outras ocasiões a caminhada é solitária, a conversa é com os próprios botões, que já foram de carne e osso, como os do poeta, e com a paisagem que se descortina ao longo do trajeto. E, embora seja a mesma de todos os dias, há sempre algo novo a ser observado. Até porque as personas que cruzam por nós são diferentes e as suas observações já constroem um novo caminho.

Mas é na caminhada solitária que se tem mais condição de observar as pessoas. E até de escutá-las. Não é que eu seja abelhudo, ou que fique fazendo pirueta para ouvir a conversa dos outros. Mas acontece de, na andada, de passagem pelos caminhantes, aqui acolá pescar alguns papos entre eles.

Recentemente foram duas garotas, com idades próximas aos 18 anos, que andavam e papeavam na minha frente. O tema eram os homens. Depois do que ouvi, (e que já revelarei), ao me afastar delas fiquei a me perguntar se elas já tinham, pela pouca idade, o tempo de convivência com essa espécie para as conclusões tão taxativas e definitivas que externaram.

O papo, até o momento que ouvi, foi mais ou menos assim: Não confio em nenhum homem, disse uma delas. Na mesma hora a outra emendou uma pergunta: Nem em seu pai? A resposta foi cortante: Mas pai não é homem, pai é pai.

Daí por diante não sei a direção que o diálogo delas tomou, pois apressei o passo pra não parecer que queria xeretar a conversa. Nesse momento o colóquio passou a ser só comigo e meus pensamentos, matutando sobre a frase “pai não é homem, pai é pai”.

As elucubrações iam de pensamentos agradáveis a tristes. Agradáveis por pensar na crença dessa menina que a figura do pai está muito acima da do homem. O tal bicho homem que, por vezes, troca o lado racional pelo bestial, sendo capaz das mais perversas crueldades com as filhas. As estatísticas, infelizmente, estão aí para atestar muitos pais sendo muito mais (bicho) homem, do que pai.

Com mãe é diferente. Claro, tem algumas exceções, mas quase sempre, Mãe é Mãe. E sem o complemento infame que os Cassetas colocaram em sua música. É assim que, numa bela homenagem à sua centenária mãe, o atual primeiro ministro da Índia, Narenda Modi, vê a sua, em artigo recente publicado em O Globo. E depois de dizer que “uma mãe não apenas dá à luz seus filhos, mas também molda sua mente, sua personalidade e confiança”, fala do profundo respeito que ela tinha pelos envolvidos em limpeza e saneamento, contemplando-os sempre com um chá depois do trabalho de limpeza que eles faziam nos ralos de sua casa. Cuidado, portanto, que se estendia não só aos seus filhos, mas aos de outras mães, que não escapavam do seu aconchego. Mãe é Mãe!

E aqui aproveito para homenagear dona Estela, mãe de amigos queridos, alguns poetas Recantistas, pela passagem dos seus 95 anos. Muita saúde e paz para ela.

Fleal
Enviado por Fleal em 05/07/2022
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