UMA CHÁCARA, UM PARAÍSO

UMA CHÁCARA, UM PARAÍSO.

Riacho atravessando a estrada principal da Boa Vista em tempos longínquos.

Uma pedra em forma de laje mantinha o riacho sempre no mesmo curso.

Ao lado do riacho, uma porteira confeccionada por varas finas de eucaliptos.

O batente da porteira sempre arrastando pelo chão no espaço por ele percorrido.

Um caminho com os trilhos por onde passavam os pneus das charretes e bagageiras, dos automóveis e dos passos firmes das pessoas que passavam por aquela porteira para chegarem até à residência do seu Pedro Cândido e sua família.

Grama verdinha e muito bem roçada, barba dos capins bem aparadas à beira do barranco baixinho que decorava o percurso até à querência de seu Pedro.

Sem nenhuma cerca na chegada, apenas um terreiro de terra preta muito bem varrido,

Flores diversas ao redor do terreiro e o Pitoco, um cachorro araçá que vivia dormindo debaixo de um pé de figo.

O pasto verdinho ao redor do terreiro era sombrio, devido às araucárias cobrirem todo o espaço próximo àquela prefeituria de seu Pedro Cândido.

A casa feita de pau-a-pique, com paredes taipadas com barro preto, que diziam ser minério, mantinha-as com uma textura semelhante a paredes de alvenaria.

Com tabatinga branca, dona Benedita, esposa de seu Pedro, rebocava as paredes, deixando-as tão brancas quanto algodão. Os esteios e os baldrames eram revestidos de barro preto, dando um realce todo especial no cartão postal da residência.

As janelas e portas, todas de duas folhas eram pintadas com óleo queimado.

Na sala, apenas duas cadeiras de madeira e uma mesa com uma toalha de saco alvejado, com biquinhos de crochê coloridos nas bordas e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida tamanho grande, exposta para quem no recinto entrasse.

Na cozinha, uma mesa de tábuas largas, sem toalha e dois bancos grandes para que as pessoas se sentassem para prosear.

No fogão de lenha, todo confeccionado em barro, ficava a chaleira de café sempre aquecida devido ao calor do fogo.

O madeiramento da cozinha era tão preto quanto a terra onde tudo estava instalado.

Havia linguiças no fumeiro, toucinho pingando no fogão, picumã nas ripas do telhado e muitas panelas bem areadas dependuradas à beira da parede.

Tudo muito simples, tudo muito humilde, muito amor, muita fé e muita paz.

Seu Pedro e Dona Benedita tinham vários filhos falecidos, quando ainda estavam em tenra idade. E tinham o João, a Maria e a Arlinda. Filhos queridos!

João era apaixonado por uma boiada pareada.

Maria era uma santa, um amor de pessoa e não sabia nada.

Arlinda era a caçula, essa ajudava a mãe nos afazeres da casa.

Ela era baixinha e casou-se com um moço mais baixinho do que ela.

Seu Pedro tocava uma viola na base dos ouvidos, sempre no mesmo tom e com as mesmas notas. Dona Benedita, creio, era a única que achava os ponteados bonitos.

Mas o que mais alegrava a todos e à vizinhança inteira eram as festas de reis que nessa querência eram realizadas.

Uma chácara, um paraíso.

Pedro Cândido, uma lenda, muitos causos e uma bela vida.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 05/07/2022
Código do texto: T7553297
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