A  CASA DE  TIA  NENA

                                                 (Pequenas  crônicas  do  cotidiano)

A caminho do trabalho,na manhã de hoje, avisto pela janela do ônibus - eu ando sempre de busão rsrs... - a casa da tia Nena.

As janelas fechadas a tanto tempo, parecem olhos cerrados tentando espiar a paisagem que a cerca.

Vêm-me à lembrança...

Tia Nena ! uma doçura em pessoa. Todos os sobrinhos a adoravam.

Quando sabía-se de sua visita em nossa casa, minha mãe ordenava que catasse flores para "A Nena ! É tão delicada esta

minha irmã mais nova...".

Quando as frutas abundavam em nosso pomar, era para tia Nena que eu levava carriolas de peras para os seus doces.

Depois fomos crescendo, adolescentes sonhadores e nosso ponto de encontro era na sua casa. Reuníamos com as primas "As meninas de tia Nena " e a frente de sua casa era o local dos flertes, das cantorias, dos risos fáceis de quando se é jovem.

Na copa do mundo de 1970, foi em frente daquela casa que nos esbaldamos cantarolando: "Eu te amo meu Brasil. eu te amo!///Meu coração é verde amarelo branco azul anil..." Só bem mais tarde fiquei sabendo que atribuia-se esta letra a certa ideologia politica. Tudo o que sei é que fomos imensamente felizes cantando este refrão.

A cozinha ampla...Tia Nena nos servindo os mais deliciosos petiscos acompanhados de café - daqueles cafés que aroma e paladar nos acompanham para sempre - Era o café da tia Nena!

Agora aquela casa fechada, melancólica, sem recheio...

Minhas primas tomaram outros rumos em suas vidas e raramente a gente vê.

Aquela casa tem a cor das abóboras. Abóboras lembram doces perfumados a cravos da índia, doçe era a presença de tia Nena em nossas vidas.

O tempo passa, a saudade permanece, o desejo de um reencontro, de um abraço, de reviver ternuras antigas é tudo o que resta à quem fica neste plano.

No ponto de ônibus um cãozinho de rua espia a melancolia do sábado que se inicia.

Pra onde vagam seus pensamentos ?

Não sei...

O motorista do ônibus engata a marcha e prossegue em seu itinerário.

Pelo retrovisor, certamente me enxerga e, diante de minha cara pensativa, possivelmente dirá aos seus botões:

Pra onde vagam seus pensamentos ? Por onde andará seu coração ?

IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 09/07/2022
Reeditado em 09/07/2022
Código do texto: T7555974
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