REMORSO E PEDIDO DE PERDÃO

O remorso assemelha-se a doloroso espinho impiedoso, um cravo que a consciência cravou em si mesma porque não pode desfazer o mal ou o erro que de alguma forma causou a alguém a algo ou à sociedade. Quem sente o poder do remorso e sua inclinação à tristeza se remoi em pensamentos depressivos, chora por vezes e leva consigo essa agoniada amargura aonde vai. As lágrimas constantes, reflexo do turbilhão e das lembranças tempestuosas oriundas da impossibilidade de desfazer as falhas do passado, são a única maneira de não enlouquecer, de não se deixar vencer pelo horror das antigas e impróprias passadas que insistem em não se afogar no vazio do esquecimento.

O remorso é o primeiro passo para o arrependimento, porém nem todos alcançam esse auspicioso segundo estágio tendo em vista as inúmeras diferenças e nuances dos corações. Porque, ressalte-se, quando se chega ao limite exigido ao arrependido, o último e decisivo degrau do qual muitos tentam fugir é o quase inevitável pedido de perdão aos que sofreram por causa dele. E sublinho o termo "quase" em virtude de muitos despencarem na fragilidade da condição emotiva, do orgulho ou do medo de baixar a cabeça e se desculpar. Pedir perdão nunca é nem será fácil. Para alguns o topete é realce por demais impeditivo do reconhecimento da culpa, também a relutancia, bem assim o nariz empinado. Daí, portanto, a persistência do remorso permanecer incomodando a consciência e marcar passo, mesmo sob sua inescapavel dor, do estágio inicial.

Ainda assim, sendo o remorso o punhal que o próprio culpado se crava por não suportar o peso que lhe cai na alma, este não logra entrar na vida de muitos embora bata insistente às suas portas. As tais batidas são ouvidas por quantos derraparam na estrada da convivência humana, sim, mas grande parte prefere fugir pela porta dos fundos dos meandros de seu íntimo e não se deixa afogar em seus afagos de tentativa de tolerância. Levam para o túmulo as irresponsabilidades, quaisquer que foram, cometidas ao longo da caminhada cotidiana. Afinal de contas, a humildade de saber-se culpado, sentir remorso, arrepender-se e suplicar o perdão para aliviar a alma e acalmar o coração não ficou para todos.