Giovanni Quintella Bezerra é o nome do médico anestesista que virou notícia nos principais tabloides do Brasil e do mundo. Formado pela UNIFOA (Centro Universitário de Volta Redonda) em 2017 e com especialização realizada na mesma instituição terminada em abril deste, tem um currículo invejável, já tendo trabalhado em mais de 10 hospitais entre privados e públicos.

 

Um tipo que não incitaria em nós, qualquer receio: educado, bem instruído, esteticamente padronizado, bem vestido, bem humorado e amante das redes sociais.

 

Estupradores não tem carimbo na testa e não estão apenas nos becos, mas nos hospitais, nas clínicas estéticas, nos consultórios, nos escritórios, nas casas, nos apartamentos, no trânsito. Eles não estão à margem da sociedade e se sentem desamparados, a maioria usa, sem escrúpulos a superioridade do poder a eles conferido em virtude do ofício que realizam. O status de médico é a porta de entrada.

 

Não! Não comentam a injustiça de taxá-lo de louco, pervertido talvez, não engrossem esse discurso de que somente um louco poderia cometer uma atrocidade desta, até porque, os loucos são poucos, diante dos que agem de caso pensado e o fazem por bel prazer. Simplesmente pelo prazer de uma aventura que não tem limites.

 

Asco é a palavra que mais se assemelha ao sentimento que carregamos. Mas isso não é suficiente para ampliarmos um debate imprescindível: nós mulheres fomos e temos sido preparadas para esse momento a vida toda.

 

Ainda na faculdade, quando uma professora que era delegada da Polícia Federal, Mirtes Spitalle, afirmou que o estupro era algo inevitável num mundo trajado de romantismo feminino e de deturpação cultural e sexual masculina. A vi como radical, exagerada. Mas cada vez mais, a frase que ela ecoava nos quatro cantos da sala me volta a mente: o estupro é inevitável, relaxe e não ofereça resistência. Por muitos anos, a vi como louca, mal amada. Mas será que ela tinha razão?

 

O choque encontrado na frieza do médico e nas circunstâncias em que a vítima se encontrava, causa em nós, certa raiva. Disseram que eram as nossas vestes, que eram as nossas exibições do corpo, que eram as nossas fraquezas, nossas posições de submissão, mas não, ser mulher é a carga. Uma carga que pesa tato a ponto de sermos violadas durante o ato mais nobre e digno, exclusivo de uma mulher: gerar vida.

 

Se pudesse escrever para a vítima, pediria desculpas.

 

Desculpas por ter sido corajosa o suficiente para denunciar em meu meio, pessoas com práticas similares que me causaram desconfiança;

 

Pediria desculpas por não estar com ela, de mãos dadas, durante o parto;

 

Por não ter falado do respeito a mulher para cada homem que encontrei, inclusive, os machistas com quem trabalhei;

 

Desculpas por não poder evitar que aquele vídeo fosse veiculado em todos os jornais e redes, e que continuará sendo, e cada vez que o nome dele voltar as telas. Seja para julgamento ou mudança de prisão.

 

Desculpas por não fazer parte das comissões que garantam a aplicação de leis mais efetivas que tipifiquem esses crimes com penas mais gravosas e que estes réus, fiquem mais tempo possível fora de circulação, quem sabe até o fim de uma vida?

 

Enfim, pediria desculpas por tolerar dia a dia, a bagagem de ser mulher, sendo calada e sufocada pela posição ou por circunstâncias religiosas.

 

Sentença maior nos crimes de violência sexual contra a mulher é ter que seguir em frente sabendo que aquele, provavelmente, não será o último do qual será vítima.

 

E no caso, uma mulher em trabalho de parto, sendo saturada, anestesiada, que pra mim se tornou a maior ofensa moral, já que engolimos vários choros, na pele da vítima, que ela engoliu a semente que povoaria o mundo, com monstros como este.

 

É a maior incoerência estrutural da história, sem precedentes. No estupro, a mulher violada, vê em si, plantada, uma semente de veneno. 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 13/07/2022
Reeditado em 13/07/2022
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