Cafés dizem Boa-Noite IV

De tanto repetir, um dia enjoa. Fiquei mais uma vez com medo disso acontecer com esse texto que já me é rotina. Mas daí um clarão me deu um soco pra não por tudo a perder: Eu não repito, este texto não é rotina, seus elementos são... Ele não! Porque sempre é diferente. Certo que os mesmos personagens, o mesmo cenário, mas o que posso fazer? Inventar absurdos e jogar no lixo a magia do real? JAMAIS! Ainda mais tratando-se das pessoas de quem falo, dos meus alunos e professores na faculdade da essencial alegria.

Noite, boa noite, preciso emagrecer, por isso conforme combinado no blog, só vou tomar mesmo o café no copo de isopor, exatamente como ela faz. Porém algo foi diferente (pra provar que não é repetição!) Quase que não a vejo tomar café, bem ao findar das horas, e não tinha na minha mira de James Bond, seus lábios de Betty Boop celebrando a energia negra abrasadora... Presença arrasadora.

Uma semana sem respirar os tijolos a vista, e pensei que ia pirar. Mas voltei, retomei e revi todas as minhas conquistas. Antes de qualquer fila, já que estava ansioso pelo ato com a Deusa Mormaii de R$ 10,00. Comprei a singela ficha de papel de nota fiscal (aquilo é uma nota fiscal seu idiota!) no valor de dois cafés... Aguardar, ver a Talita ainda mais sexy de shorts largos, responder a chamada chata, olhar a mesmice em forma de gente... E em atos inpensados, tomar um café sozinho! Rasgar a fichinha, ter o copo de isopor sem par, o filho perdido com leite frio sem irmão. Eu fui ver Karol, amiga de teatro, cabeça igual a minha... pena que faz direito. Não que eu faça errado! Bater papo na biblioteca, palpitando um resto de doce das mordidas no recipiente regado de histórias. Voltei, e como peça chave da multidão, ela e sua casa violeta flutuavam no corredor. O regozijo de 1,55m (puro chute!) e cabelos da cor do seu café.

A outra parte da ficha rasgada lhe contemplou. Mais um filho perdido, mais um sem par, amor sem destino, mas eles se conformam, porque nós nos conformamos, e eles nada mais são, que parte nossa! É tão ver alguém tomar café, sem você tomar ao mesmo tempo. Muita conversa, porque a gente não consegue ficar quieto, nem numa pose para foto. Enfim a foto, um momento para me tornar ao seu lado eterno, adornado pela confecção do colar de canudinhos... Os ardilosos ourives do lixo. A lembrança colorida na sua bolsa. Falamos tanto, tanto. De razão e emoção, porque a razão dela é feita de emoção, não que se misturem, mas que se completam. Ao apagar das luzes na nossa turnê no Dusky, o pobre copo vazio de aroma eficaz, mesmo depois de distante ainda me sussurrava: “Boa-noite, boa-noite!” e olhava com aquele ar superior, querendo dizer que não seria o último, apenas naquela hora o melhor. Muito melhor do que fora o anterior, bm pior do que será o próximo. E talvez até casado, pronto á separar-se dela mesmo numa proposta cálida, e com o humor e rancor que só ela produz.

Douglas Tedesco – 11/2007

Douglas Tedesco
Enviado por Douglas Tedesco em 28/11/2007
Código do texto: T756821