O Gari

Em uma semana, o número de inscritos para o concurso de gari da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) no Rio chegou a quase 200 mil, por desempregados de todos os níveis de instrução à procura de um emprego fixo.

O concurso, na ocasião, oferecia 1.200 vagas para serem ocupadas ao longo de dois anos. No Brasil, os garis são os profissionais da limpeza que recolhem o lixo e fazem outras limpezas.

Na minha meninice eu gostava de ler Gibi e apreciava as aventuras do homem invisível. Depois, assisti a filmes com o mesmo tema. Apesar de imprescindíveis para a manutenção da limpeza das cidades, o gari quase sempre passa despercebido nas ruas. “As pessoas costumam considerar o trabalhador braçal apenas como sombra na sociedade, seres invisíveis, sem nome. O gari enfrenta o drama da “invisibilidade pública”, ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde se enxerga somente a função e não a pessoa”.

O nome gari é uma homenagem a uma pessoa que se destacou na história da limpeza da cidade do Rio de Janeiro - o francês Aleixo Gary. Aquele empregador assinou contrato, em 11 de outubro de 1876, com o Ministério Imperial para organizar o serviço de limpeza da cidade do Rio de Janeiro.

A pesquisa Garis (Texto: Marcelo Gutierres In: Boletim USP, nº 1146, São Paulo, 10/03/2003) um estudo de psicologia sobre invisibilidade pública busca contribuir na determinação de um novo conceito: a invisibilidade pública. "Um simples 'bom dia' e a pessoa pode sentir-se que novamente existe", relata o psicólogo Fernando Braga da Costa, que defendeu seu mestrado no Instituto de Psicologia (IP) da USP em novembro de 2002.

Esta crônica é para registrar a indignação de garis quando insinuam que a profissão de Gari seja um castigo, como querem alguns ao apenar indivíduos que teriam praticados pequenos ilícitos, com a determinação de cumprir pena comunitária, trabalhando de gari. Há uma revolta entre os garis, conforme matéria que li no jornal Extra. No entanto, essa medida é tendência mundial. (em agosto do ano passado, o cantor Boy George, norte-americano, virou gari e teve que varrer as ruas de Nova York, depois de ter feito uma falsa comunicação de assalto à polícia.)

— Olha aí, chefia, bota o infrator a trabalhar sobre as ordens de um gari. Este se sentirá enaltecido e o outro mais humilhado o que é o espírito do expediente punitivo.

Vamos fazer o seguinte: hoje ou noutro dia, ao deparar na rua com um gari, dê um bom dia ou boa tarde ou boa noite. Você pode nem ter resposta porque o gari “tenta se proteger da violência da invisibilidade não respondendo a um eventual cumprimento”. Mas isso não importa, o importante é você tomar a iniciativa.

E eu, também.

José Lindolfo Fagundes
Enviado por José Lindolfo Fagundes em 28/11/2007
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