O Ipê

Ah! Os ipês! Sempre encantadores. Todos são lindos e exuberantes.

Mas os amarelos exageram. Despem-se de suas folhas e se vestem do mais nobre, requintado e belo vestido pra se mostrarem ao mundo.

Num milagre de Deus, em meio ao clima seco e à seca vegetação, cobrem-se de flores anunciando que a primavera está chegando trazendo renovação e vida nova. Novas esperanças.

Sempre que vejo um ipê amarelo todo florido, e os primeiros já estão se exibindo por aqui, lembro de minha infância.

Bem perto de minha casa um lindo e frondoso ipê amarelo esperava pacientemente o rigoroso inverno daquela época passar para então se mostrar ao mundo. A cada ano parece que queria se superar em beleza.

Quando ele começava a mostrar os primeiros botões a gente se alegrava. O inverno estava chegando ao fim. E da noite pro dia ele se cobria todo de flores. E a primavera se anunciava.

Geralmente floria no final de agosto ou principio de setembro. Hoje em dia eles florescem entre final de julho e meados de agosto.

Mas o fato é que o inverno por aqui era sempre de baixas temperaturas. Castigava. Aqui, uma pequena e pacata cidade do interior, a gente desde muito cedo andava sozinha pela cidade.

Lembro-me que morava um pouco distante do colégio onde estudava. O uniforme de saia toda pregueada em azul marinho, uma blusa bem branquinha, sapatos pretos e meias brancas. No inverno era terrível sair de casa por volta de seis e meia da manhã. O agasalho mal protegia do frio. Eu, magrelinha, sentia o vento frio batendo em minhas pernas como navalha. Saía de minha cama quentinha e me aventurava no frio cortante de inverno até chegar ao colégio.

Passa por minhas lembranças as recomendações de minha mãe: não converse com nenhum estranho e nem aceite nada de ninguém, não passe pela rua da Fundição pois lá tem muitos homens, ande sempre pela calçada e tenha cuidado ao atravessar a rua. Deus lhe abençoe, lhe proteja e lhe guie na ida e na volta. Bons estudos!

E quando o ipê floria era uma alegria. Temperaturas mais amenas e um clima agradável.

Todas as vezes que vejo um ipê amarelo florido eu me encanto. É como se a minha alma se enchesse de primavera. E eu amo a primavera. As noites suaves e calmas, os dias esbanjando o colorido das flores.

É como se o outono tivesse preparado toda a natureza para um novo ciclo. E o inverno a deixou em hibernação. E na primavera acontece um renascimento em tudo.

E em mim também algo renasce e as lembranças me invadem.

Lembranças da infância com suas descobertas do mundo, da adolescência quando o coração pela primeira vez descobriu uma atração por um cara e pensou que era pra sempre, da juventude quando tantas emoções me deixaram atônita, da idade adulta com suas responsabilidades, trabalho e amores, da maturidade que trouxe serenidade, sabedoria e discernimento.

E assim a gente vai vivendo. As estações vêm e vão. Nossos ciclos de vida são como as estações. Cada um tem seus encantos, cada um nos ensina e enobrece, cada um mostra que não estamos aqui a passeio. Mas estamos aqui de passagem. Estamos aqui pra crescer, pra nos preparar para uma nova vida em outra dimensão.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 28/07/2022
Reeditado em 28/07/2022
Código do texto: T7569914
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