CASA VELHA
CASA VELHA
Nasci no ano de 1900 em Calambau, na zona da mata mineira. O meu dono me construiu com
o maior carinho, pois assim que eu estivesse pronta ele iria se casar e seria eu que daria abrigo
à sua família. A madeira da minha construção era a de melhor qualidade que existia na famosa
mata da fazenda Bananeiras, em Calambau. Todo o material seria excelente.O cimento, cal,ferragens e outros componentes necessários `a construção e que não existiam na localidade,viriam de Viçosa através de tropa e carro de bois. Em Viçosa já existia a estrada de ferro Leopoldina, que vindo do Rio ia até a cidade de Raul Soares, depois de passar por Ponte Nova. Como em Calambau existiam excelentes pedreiros, foram eles os responsáveis pela minha construção.
De acordo com o cálculo destes pedreiros e carpinteiros, a obra ficaria pronta em um ano.
Assim deveria ser, pois o Sr.Euclides, o meu dono, tinha a intenção de se casar no próximo ano.
Tudo corria dentro do estabelecido e feito com muito bom gosto. A noiva Cinira de vez em quando visitava a obra junto com alguns familiares, e tinha toda a atenção do noivo, que ia
Explicando a todos o andamento da obra. Eu ficava toda envaidecida vendo que a minha construção agradava a todos.
A primeira festa que acolhi foi o casamento do Euclides e a Cinira.Foi uma grande festa com a
presença de muitas pessoas. A partir daí sempre havia muito movimento em meu interior , pois
a família do novo casal crescia a cada ano.Muitas outras festas se sucederam: batizados, aniversários, casamentos e muitas outras.Presenciei também momentos de tristeza, quando falecia algum membro da família, principalmente dos donos da casa, responsáveis pelo meu nascimento.
O tempo foi passando.Hoje mora em mim um filho e netos dos meus primeiros donos. E o pior:- Já ouvi comentários de que serei vendida e demolida, pois neste lugar nascerá um moderno
e grandioso prédio.Fiquei muito triste com a notícia,pois por tudo que presenciei,psssei a ser uma testemunha ocular da história desta família e da cidade onde fui construída.
Na verde poucos nesta cidade se interessam pelo que eu represento na história local. O meu consolo é que, pelo menos, parte de mim será utilizada na nova construção:- algumas de minhas madeiras farão parte da nova cas que irá surgir, dando início a uma nova história...
E assim é a vida:- Tudo que nasce morre, mas fica sempre um pouco da vida anterior!
Murilo Vidigal Carneiro-Calambau 28 de julho de 2.020